O general Júlio Cesar de Arruda, ex-comandante do Exército, afirmou nesta quinta-feira (22) ao STF que nunca impediu a PM do Distrito Federal de prender manifestantes nos acampamentos próximos ao QG do Exército no dia 8 de janeiro de 2023. O depoimento foi prestado como testemunha de defesa do tenente-coronel Mauro Cid, acusado de envolvimento em suposta tentativa de golpe.
Arruda declarou que sua preocupação era garantir uma ação “coordenada”, não impedir a atuação da polícia. Segundo ele, a ordem era acalmar os ânimos e evitar confronto. “O general Dutra me ligou e disse que a polícia estava vindo para prender todo mundo. Eu disse que aquilo precisava ser coordenado”, relatou. Disse também que envolveu o interventor Ricardo Cappelli e os ministros Flávio Dino, Rui Costa e José Múcio na decisão sobre a retirada.
Durante a oitiva, Arruda rejeitou a versão do então comandante da PMDF, coronel Fábio Augusto Vieira, que o acusou de barrar a operação policial e teria dito: “A minha tropa é maior que a sua”. Ao ser questionado, o general respondeu: “Não me lembro dessa frase. O ambiente era tenso. Minha função era acalmar”.
O general fez questão de afirmar que não houve obstrução, apenas condução responsável. Reforçou que tudo foi feito em conjunto com o governo Lula e que sua atuação buscou preservar a ordem.
Questionado sobre Mauro Cid, Arruda o classificou como um oficial respeitado, preparado e sem perfil político. “Conheço bem ele e a família. Sempre se destacou nas funções operacionais e intelectuais. Comigo, sempre foi respeitoso”, disse.
Relatou ainda que conheceu Cid em 2004, em Goiânia, quando ambos serviram juntos. Explicou que a nomeação de Cid para um comando em 2022 foi decidida com antecedência, antes da eleição, e feita pelo então comandante Freire Gomes.
Sobre os acontecimentos do 8 de janeiro, afirmou que se dirigiu imediatamente ao QG para monitorar os desdobramentos. Negou qualquer conversa sobre planos de golpe, morte de autoridades ou interferência nos inquéritos. Disse que nunca falou com Bolsonaro após os atos e que sua exoneração do comando, feita dias depois, foi uma decisão política. “Não precisa justificativa. O presidente nomeia e exonera quem quiser.”
Arruda também desmentiu relatos da imprensa sobre suposta expulsão de coronéis da reserva de seu gabinete. Confirmou que recebeu o general da reserva Mário Fernandes, mas negou qualquer atrito. “Ele foi me visitar. Conversamos normalmente.”
O depoimento reforça a linha de defesa de Mauro Cid, que tenta desvincular sua atuação de qualquer plano de ruptura institucional. A Primeira Turma do STF ouviu, ao todo, oito testemunhas indicadas por Cid, todas militares. O ministro Alexandre de Moraes presidiu a sessão.