O Vietnã anunciou restrições ao envio de produtos com destino aos Estados Unidos que passam por rotas comerciais via China. A medida é vista como tentativa de driblar as tarifas de 145% impostas pelo ex-presidente Donald Trump sobre mercadorias chinesas, e também de conter fraudes envolvendo origem de produtos.
Segundo documento obtido pela Reuters, a decisão foi motivada por pressão da Casa Branca, especialmente de Pete Navarro, ex-conselheiro de Trump para comércio exterior. A principal preocupação é com produtos chineses rotulados como “feito no Vietnã”, embarcados em portos vietnamitas apenas para maquiar a origem real das mercadorias.
O Vietnã foi incluído no tarifaço em 2 de abril, com alíquota de 46%. Trump, no entanto, concedeu uma pausa de 90 dias nas tarifas superiores a 10% para países que não a China. O governo vietnamita, após encontro com autoridades dos EUA nesta quinta-feira (10), prometeu ações para coibir “fraudes comerciais”, sem dar detalhes sobre como isso será feito.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China comentou que “acreditamos que o Vietnã fará uma escolha alinhada aos seus interesses próprios e à situação mutuamente benéfica de cooperação entre China e Vietnã”.
A relação comercial entre os dois países, no entanto, é complexa. Boa parte das exportações do Vietnã aos EUA envolve componentes chineses ou produtos fabricados por empresas da China instaladas em território vietnamita. A prática elevou artificialmente os números de exportação de Hanói para Washington, que saltaram de US$ 46 bilhões em 2017 para US$ 136 bilhões em 2024.
Fontes ligadas às negociações afirmam que o objetivo do Vietnã é reduzir as tarifas para a faixa entre 22% e 28%. Segundo uma das fontes, os próprios negociadores americanos consideraram o patamar “realista” durante uma reunião em março.
Ao mesmo tempo em que tenta estreitar laços comerciais com os EUA, o Vietnã evita romper com a China — hoje um dos maiores investidores no país. Em 2024, Hanói importou US$ 144 bilhões em produtos chineses.