** Observatório Por Um Brasil Melhor
A nova ordem mundial não será moldada por tanques, tratados ou votos. Ela já está sendo escrita em linhas de código, protocolos de pagamento e redes invisíveis de controle. Essa arquitetura tem nome: tecnopolaridade. E o Brasil, sem perceber, já foi arrastado para dentro dela — sem voz, sem plano, sem resistência.
O episódio é global. O SWIFT, sistema financeiro ocidental que movimenta US$ 150 trilhões por ano, está sendo confrontado pelo CIPS, a rede de pagamentos da China. Em tese, trata-se de concorrência técnica. Na prática, é um movimento de reorganização geopolítica. Não se trata mais de quem tem o maior exército, mas de quem controla a mobilidade do capital — e, por tabela, a liberdade de cidadãos e Estados.
Esse embate não é neutro. O Ocidente opera a partir de sanções; o Oriente, por controle estatal absoluto. Ambas as redes impõem regras: quem transaciona, o que pode ser comprado, como, quando e com quem. Não é exagero dizer que estamos vivendo a conversão do sistema financeiro global num aparato disciplinar. O que muda é o logotipo do censor.
O Brasil, mais uma vez, não escolheu lado — escolheu ser periferia. O país está sendo integrado como satélite de uma guerra que não compreende, assinando acordos de transição energética sem matriz própria, implantando moeda digital com rastreio completo do consumo, repetindo os mantras ESG ditados por Davos e financiando desindustrialização em nome do “meio ambiente”.
Não há soberania possível sem controle de rede. Mas o Brasil não tem sequer autonomia sobre sua moeda, sua energia, seu crédito ou sua indústria. Depende de insumos chineses, fertilizantes russos, chips americanos, bancos privados e organismos multilaterais que não prestam contas a ninguém. Nessa arquitetura tecnopolar, o Brasil é nó — não é centro.
E pior: toda essa submissão é vendida como “inovação”. Como se aderir a um sistema de vigilância algorítmica e submissão financeira fosse progresso. Mas o que está em curso é uma reorganização autoritária do mundo com aparência de eficiência. A liberdade, nesse modelo, é um risco sistêmico. E o Brasil está entregando a sua de forma voluntária, sem uma única linha de resistência institucional.
Na tecnopolaridade, quem controla o sistema de pagamentos controla o destino dos países. E quem não tiver um sistema próprio — ou pelo menos uma estratégia nacional para operar entre as redes — será apenas mais uma peça descartável na engrenagem de poder. O Brasil está neste caminho.
Os chineses sabem que sua hegemonia não será admirada — será imposta. Eles não precisam ser amados. Precisam apenas que ninguém escape. E os brasileiros, que foram excluídos da prosperidade americana, agora serão incorporados à disciplina chinesa — com CPF, carteira digital e crédito social embutido.
Não haverá Segunda Guerra Fria. Haverá, isso sim, um congelamento global da autonomia nacional. E o Brasil, com sua elite subserviente e seu Estado capturado, será um dos primeiros a assinar o contrato de dependência.