Por Ary Alcântara*
O chamado Acordo de Mar-a-Lago poderia ser visto como uma reinterpretação moderna do Acordo de Bretton Woods (1944) e do Acordo Plaza (1985), agora sob a ótica de Donald Trump.
Mas o que isso significa? Em essência, uma nova ordem financeira global. O objetivo seria conter (de forma drástica) a valorização do dólar, aliviar a dívida americana — ou ao menos torná-la mais administrável — e fortalecer a indústria dos EUA, como mencionei no artigo de ontem.
O ponto central desse compromisso seria a possibilidade de credores estrangeiros alongarem os prazos dos títulos do Tesouro e a criação de um fundo soberano americano para fomentar investimentos estratégicos.
O economista Fábio Fares resume a lógica do plano:
“Trump quer impedir que o dólar destrua a indústria americana. O Acordo de Mar-a-Lago não é sobre controle cambial, mas sobre estratégia de poder e competitividade. O que está em jogo é o papel dos EUA como centro manufatureiro global.”
Segundo ele, a valorização excessiva do dólar desmontou parte do parque industrial americano e ampliou os desequilíbrios comerciais. “Essa agenda busca reposicionar os EUA no centro das cadeias produtivas e reduzir a dependência de países como China e aliados europeus”, explica.
Mas as implicações vão além da economia: trata-se de uma estratégia geopolítica. Os EUA já reavaliam alianças estratégicas, questionam acordos comerciais e pressionam seus aliados a assumirem maiores responsabilidades em gastos com defesa. Tudo isso alinhado à doutrina política americana, onde a palavra “liberdade” se mantém como pilar central.
No curto prazo, podemos esperar mudanças no câmbio, realocação de capitais, disputas comerciais e tarifas e questionamentos sobre o futuro do dólar como moeda de reserva global.
Para o Brasil, um dólar mais fraco gera incertezas: como isso afetará nossas exportações e a competitividade dos produtos nacionais?
Trump, no entanto, é previsível e joga no ataque, esperando reações. Sua estratégia? Paciência.
* Ary Alcantara é consultor financeiro e especialista em Previdência; foi secretário de Previdência Complementar do governo Figueiredo