A mudança de postura do ministro Luiz Fux em relação às condenações do 8 de janeiro gerou desconforto dentro do STF. Antes alinhado a Alexandre de Moraes, Fux agora questiona penas impostas, o que desagrada parte da corte. O caso da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, presa por pichação, foi o estopim da mudança.
Fux, que havia acompanhado Moraes em quase todas as 500 condenações, surpreendeu ao defender a “humildade judicial” e admitir “erros” nos processos. Nos bastidores, ministros avaliam que ele reage à pressão popular e busca preservar sua imagem diante das críticas ao Supremo, segundo apuração da Folha.
A reviravolta de Fux não é novidade. Em 2020, sob forte opinião pública, ele barrou a reeleição de Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia no Congresso, contrariando um suposto compromisso anterior. Agora, ele freia a sanha punitiva contra os manifestantes do 8 de janeiro, pedindo tempo para reavaliar as penas.
A linha dura de Moraes tem sido criticada por impor condenações de 17 anos, muitas vezes sem avaliação individualizada. Fux, que sempre teve mão pesada em matéria penal, demonstrou incômodo ao ver a escalada de punições. No caso de Débora, suspendeu o julgamento, argumentando que precisava “analisar o contexto”. Moraes rebateu, afirmando que a ré “aderiu a uma tentativa de golpe”.
Nos bastidores, a atitude de Fux é vista como um gesto para desarmar as críticas crescentes ao Supremo. Assessores relatam que o ministro ficou sensibilizado pelo caso de Débora e quis reduzir a tensão em torno da corte. Mesmo assim, ele não rompeu completamente com Moraes e o avisou previamente sobre seus questionamentos.
Fux presidiu o STF no auge dos ataques de Bolsonaro à corte e sempre buscou equilíbrio. Agora, ao se distanciar de Moraes, ele se coloca como voz dissonante dentro do tribunal, levantando dúvidas sobre a coerência das decisões judiciais. A mudança de tom reforça a fragilidade das condenações do 8 de janeiro e expõe uma divisão crescente dentro do STF.