A Polícia Federal identificou que entidades investigadas por fraudes contra aposentados do INSS utilizaram uma funerária para simular mortes e lavar dinheiro do esquema. Segundo o UOL, a Global Planos Funerários, ligada ao ex-presidente da Caixa de Assistência aos Aposentados e Pensionistas (Caap), recebeu R$ 34 milhões da própria Caap e R$ 2,3 milhões da Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional (Aapen), ambas com sede no Ceará.
Apesar dos valores milionários, nenhuma das entidades oferecia planos funerários aos seus associados, conforme relatório da PF. Estima-se que os valores correspondam a mais de 8 mil enterros em dois anos, o que exigiria uma média de 19 mortes por dia, número incompatível com os dados oficiais e sem impacto na quantidade de associados ativos.
O dono da funerária, José Lins Neto, também presidiu a Caap e era vinculado à Aapen. A empresa passou a receber os repasses pouco depois de a Caap firmar acordo com o INSS para realizar descontos em benefícios. Durante o mesmo período, a Global transferiu R$ 12 milhões à clínica Máxima Saúde, controlada por familiares da tesoureira da Aapen, Maria Luzimar Rocha Lopes, que também recebeu R$ 700 mil em transações suspeitas, segundo o Coaf.
Em 2024, a Aapen e a Caap tinham, juntas, mais de 640 mil aposentados com descontos automáticos em folha. A Aapen arrecadou R$ 81,9 milhões e a Caap, R$ 48 milhões. No entanto, a Controladoria-Geral da União (CGU) ouviu mais de 400 supostos associados e praticamente todos negaram ter autorizado os descontos.
A Justiça Federal autorizou buscas nas sedes das associações e determinou o bloqueio de R$ 150 milhões da Caap e da Global, além de R$ 200 milhões da Aapen. A funerária teve seu CNPJ encerrado em abril, menos de um mês antes de ser alvo da operação da PF.