O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou que o governo Lula utilizou de chantagem com parlamentares que assinaram o requerimento de urgência para o projeto que anistia os presos do 8 de janeiro. Segundo o parlamentar, o Planalto ameaçou cortar verbas e cargos de aliados que mantivessem apoio à proposta.
“Diante da pressão covarde do governo”, Sóstenes decidiu protocolar o pedido de urgência ainda na segunda-feira (14), mesmo sem atingir a meta de 300 assinaturas — foram 262 no total, acima das 257 necessárias. Apenas a deputada Helena de Lima (MDB-RR) retirou o apoio após a pressão.
A informação foi confirmada ao Globo por fontes do próprio Palácio do Planalto, que admitiram ter feito contatos com aliados de deputados, mas negaram ameaças diretas. Nos bastidores, interlocutores do governo disseram ter “lembrado” aos parlamentares que haverá em breve uma reavaliação de cargos e verbas, e que “não faria sentido contemplar quem não vota com o governo”.
Segundo Cavalcante, pelo menos três deputados relataram ter recebido ligações após assinarem o requerimento. Um deles mencionou uma emenda de R$ 25 milhões na área da saúde, que estaria sob risco. “Isso é chantagem explícita com dinheiro público. Estão usando o orçamento para calar quem pensa diferente”, afirmou o líder do PL.
A ofensiva do governo para barrar a anistia ganhou força depois do ato liderado por Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, que reuniu quase 45 mil pessoas, com faixas em apoio aos presos e críticas ao STF. Parlamentares da oposição avaliam que a pressão popular pode acelerar o debate na Casa.
Pelo regimento da Câmara, após o protocolo, não é mais possível incluir ou retirar assinaturas do requerimento — a não ser que 132 deputados peçam formalmente para torná-lo sem efeito. A tramitação agora depende do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e da fila de mais de mil pedidos de urgência já protocolados.
O projeto virou alvo do Planalto após o avanço da mobilização bolsonarista e o desgaste crescente das prisões do 8 de janeiro. O governo teme que a anistia esvazie a narrativa de “tentativa de golpe” usada para justificar as ações de Alexandre de Moraes e da base governista no Congresso.
“Querem controlar o Congresso na base da tesoura no orçamento. Isso não é articulação política, é coerção”, disparou um deputado governista em reserva, revelando o clima de tensão até entre aliados.