Contratos públicos firmados pela Prefeitura do Recife (PE), sob comando de João Campos (PSB), somam R$ 20 milhões para uma empresa ligada a um empresário com restrições judiciais após operação da Polícia Federal por desvios em gestões do PSB durante as enchentes de 2017.
Do total, R$ 18,7 milhões foram repassados em contratos de 2021 e 2023 pela Secretaria de Infraestrutura da capital pernambucana. Os valores referem-se ao fornecimento de lonas plásticas para áreas de risco de deslizamento em morros. Em 2025, a mesma empresa venceu nova licitação da Secretaria de Ordem Pública e Segurança e deve assinar contrato de R$ 7,5 milhões.
A empresa beneficiada é a MN Plásticos & TNT Ltda, registrada em nome de Antônio Neto, sobrinho do empresário Antônio Júnior, preso em 2017 na Operação Torrentes e ainda sujeito a medidas cautelares da Justiça.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a MN Plásticos foi criada em junho de 2018, seis meses após a 13ª Vara Federal proibir Antônio Júnior de firmar contratos públicos. O MPF sustenta que a empresa foi aberta para burlar a decisão judicial.
Relatório do Gaeco, de dezembro de 2024, aponta que Júnior investiu recursos na empresa do sobrinho e orientou mudanças no CNAE da firma para que ela pudesse disputar os mesmos contratos vencidos anteriormente pela AM Júnior. O documento afirma que ele repetiu o modelo da Operação Torrentes: usar familiares como laranjas para comandar empresas de fachada.
Entre os exemplos citados pelo MPF estão a T & R Comércio de Artigos de Confecção Ltda, a Megabag Indústria de Bolsas Ltda – ME e a própria AM Júnior, todas supostamente controladas por ele.
Apuração do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE) mostra que a MN Plásticos movimentou R$ 48 milhões em contratos com o poder público. A Prefeitura do Recife responde por R$ 20 milhões desse total.
O MPF propôs uma transação penal em 17 de dezembro de 2024, sugerindo multa de R$ 160 mil a ser paga por Antônio Júnior e o sobrinho, por descumprimento das medidas cautelares. A audiência está marcada para o dia 30.
Em nota, a prefeitura afirmou que a MN Plásticos venceu licitação em 2025 e declarou que “durante as fases de validação e atesto, a concorrente se encontrava apta administrativamente a participar do certame, conforme atestam os certificados”.
Antônio Júnior e Antônio Neto não responderam aos contatos da reportagem.
No início do ano, a gestão de João Campos comprou livros para professores que custaram até R$ 1,6 mil por unidade, resultando em um prejuízo estimado em mais de R$ 3,3 milhões aos cofres públicos.