O empresário Mustafa Goktepe, de 47 anos, foi preso nesta quarta-feira (30) pela Polícia Federal após determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino. O pedido de prisão cautelar atende a uma solicitação do governo da Turquia, que exige sua extradição sob a acusação de integrar organização considerada terrorista pelo regime de Recep Tayyip Erdogan.
Naturalizado brasileiro desde 2012, Goktepe vive há duas décadas no Brasil, onde é proprietário de uma rede de restaurantes e dirige duas escolas. Ele é casado com uma brasileira e pai de duas meninas, nascidas no país. O empresário é ligado ao movimento Hizmet, fundado pelo clérigo muçulmano Fethullah Gülen, ex-aliado de Erdogan e, desde 2016, declarado inimigo do governo turco.
A prisão preventiva de Goktepe reacende o debate sobre os limites da cooperação internacional quando há evidente viés político. O Hizmet, descrito como pacifista e dedicado à educação, é reconhecido por diversas nações e pela ONU, mas classificado como grupo terrorista pela Turquia após a frustrada tentativa de golpe em 2016, que deixou 250 mortos e milhares de feridos. Gülen, exilado nos EUA desde 1999, morreu em 2024, negando qualquer envolvimento com o levante.
A defesa de Goktepe classifica o pedido turco como perseguição ideológica.
“Além de ser brasileiro naturalizado, casado com uma brasileira, e de ter duas filhas brasileiras, Mustafa é uma liderança na defesa da tolerância política e religiosa e na defesa da democracia. O pedido do governo turco é mais um triste episódio de perseguição por opinião política”, afirmou o advogado Beto Vasconcelos.
Segundo ele, a defesa prepara pedido de revogação da prisão com a expectativa de que o STF, ao analisar os argumentos, negue a extradição.
“Estamos tomando providências para um pedido de revogação da prisão com a confiança de que o STF, assim que tiver conhecimento dos fatos pela defesa, o fará.”
Esta é a terceira tentativa do governo turco de extraditar membros do movimento Hizmet residentes no Brasil. Os dois pedidos anteriores, contra os empresários Ali Sipahi e Yakup Sagar, foram negados pelo Supremo, ambos acusados pelo mesmo tipo de vínculo ideológico. Sipahi, inclusive, é sócio de Goktepe em empreendimentos gastronômicos.
O processo atual será analisado pelo STF nos próximos dias. Até lá, Goktepe segue preso cautelarmente por ordem do ministro Flávio Dino.