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Quem está mentindo, Moraes?

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O general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, negou ter ameaçado dar voz de prisão a Jair Bolsonaro e alegou que a imprensa interpretou errado o episódio. Essa imprensa se baseou no relatório de indiciamento apresentado pela Polícia Federal, com quem parece manter uma relação quase carnal de vazamentos seletivos para construção de uma narrativa que satisfaça aos anseios de Alexandre de Moraes.

Por isso, Moraes se irritou com Freire Gomes e, em tom de ameaça, mandou ele pensar bem antes de responder às perguntas dos advogados e dos ministros. “Se mentiu na polícia, tem que falar que mentiu na polícia. Não pode agora no STF dizer que não sabia”, alertou. De fato, o general não pode incorrer em falso testemunho perante a Justiça, mas não pode ser punido por mentir à Polícia Federal.

Contradições entre versões, interpretações equivocadas, tudo pode acontecer após 11 horas de depoimento. “Onze horas de depoimento?”, surpreendeu-se Luiz Fux, o único a se interessar em questionar a testemunha. Os demais colegas de Moraes na Primeira Turma permaneceram em silêncio enquanto o ex-comandante do Exército desmontava, uma por uma, as afirmações reproduzidas pela PF em seu relatório.

Se o general diz que nunca mentiu em 50 anos de Exército, Moraes deveria convocar o delegado Fábio Shor e sua equipe, cobrar as gravações das oitivas e providenciar uma acareação. Afinal, a PF teve 11 horas para extrair cada gota de verdade do general 4 estrelas, que apesar das cinco décadas de serviços prestados parece ter sido tratado como inimigo da pátria, sem cafezinho nem casaquinho.

Mas cá entre nós. Essa história de “dar voz de prisão” ao presidente da República não cola. Afinal, o próprio Freire Gomes corria ali o risco de ser preso, destituído e processado, caso ousasse ameaçar o próprio comandante-em-chefe das Forças Armadas. Se mentiu, o delegado deveria tê-lo questionado sobre a implausibilidade da conduta. Também deveria ter checado se o general reconhecia o texto da tal minuta de golpe, se havia ao menos lido seus artigos e se reconhecia o assessor que lhe apresentou o documento.

Freire Gomes negou a versão sobre Bolsonaro, negou a versão sobre Filipe Martins e ainda negou a versão sobre Anderson Torres. Não restou nada do relatório da PF, nem da denúncia da PGR, que embarcou no relatório da PF sem ouvir a testemunha nem confirmar os supostos fatos ali narrados. Com seu castelo de cartas desmoronando, podemos esperar uma pressão ainda maior sobre o brigadeiro Baptista Júnior, na próxima quarta-feira.

Com a repercussão negativa do depoimento de Freire Gomes, talvez Moraes resolva proibir de vez o acesso da imprensa à sala da Primeira Turma, onde repórteres trabalharam hoje sob a marcação cerrada de policiais. Alguns, tiveram seus pertences revirados, barrinhas de cerais tomadas, e até obrigados a desbloquear seus celulares para verificação dos agentes, orientados a expulsar quem violasse a regra imposta pelo ministro-ditador, quero dizer, relator.

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