Não há lembrança de um presidente da Câmara dos Deputados que tenha chegado com uma estratégia de comunicação tão estruturada como Hugo Motta. Logo que o paraibano se sentou na cadeira, circulou um vídeo nas suas redes sociais no qual ele se apresentava e brincava no final: “quer me conhecer, faz um Hoogle (e não um Goggle)”.
Entre seus objetivos está, segundo um deputado próximo ao grupo de Motta, dar uma cara jovem e dinâmica à Câmara. Na guerra de legitimidade entre os poderes, onde cada um tenta justificar socialmente porque merece as preeogativas que tem, esse é um tipo de preocupação que faz sentido.
Nas mensagens dadas por Hugo Motta, anotou-se os seguintes recados: (i) o governo é composto pelo Executivo e pelo Legislativo em pé de igualdade; (ii) apoiamos a agenda de Fernando Haddad, mas o governo precisa aumentar seu grau de responsabilidade fiscal; e (iii) a transparência exigida para a execução das emendas parlamentares também precisa atingir os outros poderes.
O jornalista Fernando Exman, na sua coluna publicada hoje (5) no Valor, também destaca que as muitas citações ao parlamentar a Ulysses Guimarães evidenciam uma reação à tentativa da esquerda de se apropriar do tema da democracia como sua bandeira exclusiva, estratégia que está em curso desde as eleições presidenciais de 2022. Motta quer atribuir o suporte da democracia ao Congresso acima de tudo, e não a um partido ou força política específica.
Por fim, chama atenção a fala repetida várias vezes de que “ser de centro é ter ausência de preconceitos”. Trata-se também de uma tentativa de dar um banho de loja na sempre criticada disposição dos partidos de centro de fazerem parte de qualquer governo.
Quem conversa com parlamentares de partidos desse espectro político sabe que há, hoje, uma dificuldade de se aproximar mais do governo em razão da fiscalização da base de eleitores conservadores. Motta, dessa forma, defende a liberdade de integrantes dessas legendas – principalmente PP, Republicanos e PSD – de trabalharem com o governo Lula em muitas oportunidades.
Motta caminha, dessa forma, para dar uma cara ao Centrão, num movimento que pode ter muitas intenções, a começar pelo descolamento desse segmento político do ex-presidente Jair Bolsonaro, do oferecimento de um apoio crítico à governabilidade necessária ao presidente Lula e, principalmente, da consolidação do Congresso como a principal casa política do país.
Leonardo Barreto é doutor em Ciência Política (UnB) e sócio da consultoria Think Policy.
Respostas de 2