O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tem reforçado sua articulação política em meio ao avanço do movimento que pede anistia para os condenados pelos atos do 8 de Janeiro. A movimentação inclui encontros com lideranças, visitas ao Congresso e decisões interpretadas como recuos nas punições.
Segundo o jornal O Globo, ministros do STF e parlamentares veem nos bastidores uma tentativa de Moraes de blindar seu capital político diante da pressão crescente de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Relator dos processos relacionados à suposta tentativa de golpe, Moraes se tornou o principal alvo da oposição.
Apesar de pontuais divergências internas, a 1ª Turma do STF tem mantido unanimidade nos julgamentos sobre o 8 de Janeiro, garantindo sustentação às decisões do ministro.
Indicado ao Supremo por Michel Temer (MDB), Moraes tem longo histórico de trânsito político. À reportagem, Temer afirmou que o ministro “sempre foi de muito diálogo, especialmente com a classe política”.
Há três semanas, Moraes reuniu em seu apartamento, em Brasília, autoridades dos Três Poderes. O jantar contou com a presença do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). A ocasião foi marcada como homenagem ao senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), um dos principais aliados do governo Lula no Congresso.
No dia 1º de abril, Moraes apareceu de surpresa no Congresso durante o lançamento de um livro organizado por Pacheco. Em fevereiro, participou de um jantar promovido por Temer, ao lado do ministro Kassio Nunes Marques, nome indicado por Bolsonaro ao STF.
A movimentação de Moraes também coincide com decisões vistas como concessões. Em março, o ministro revogou a prisão de Débora dos Santos, que havia sido condenada a 14 anos por manchar de batom a estátua da Justiça durante os protestos em frente ao STF. A medida veio após questionamento do ministro Luiz Fux sobre o rigor da pena.
Outro gesto interpretado como gesto político foi a autorização para que 24 parlamentares visitassem o ex-ministro Walter Braga Netto, preso em unidade militar no Rio de Janeiro. Antes disso, Moraes havia restringido visitas a outros detidos, inclusive familiares.