O jornal britânico Financial Times (FT) publicou há pouco que o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) por suposta tentativa de golpe de Estado pode, na verdade, aumentar sua popularidade. Na semana passada, o ex-presidente e aliados se tornaram réus no Supremo Tribunal Federal (STF).
“As autoridades brasileiras estão determinadas a realizar um julgamento sobre o suposto golpe bem antes do início da campanha para a próxima eleição presidencial, para evitar ambiguidades legais como as que marcaram a campanha de reeleição de Donald Trump em 2024”, afirma a reportagem.
A campanha de Trump também enfrentou sérias ameaças ao longo de 2024, com a possibilidade de prisão do então candidato republicano.
“Mas, ao colocar Bolsonaro em julgamento, as autoridades correm o risco de elevar seu perfil político — e até mesmo transformá-lo em um mártir”, completa o FT.
O artigo faz um paralelo entre o processo que levou à prisão de Lula e o que pode resultar em uma situação semelhante para Bolsonaro: “O processo criminal, que provavelmente começará no final deste mês, dividiu a maior nação da América Latina, ecoando eventos de oito anos atrás, quando o rival de Bolsonaro, o atual presidente esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva, foi julgado por acusações de corrupção e preso. Suas condenações foram posteriormente anuladas devido a falhas processuais”.
“Naquela época, como agora, os opositores exigiam que a justiça fosse feita, enquanto os apoiadores denunciavam o que viam como perseguição política por juízes tendenciosos”, continua o jornal.
Uma pesquisa realizada pelo instituto AtlasIntel, na semana passada, é mencionada na reportagem. Ela revela que 51% dos brasileiros acreditam que Bolsonaro planejou um golpe, enquanto 48% o consideram inocente.
O jornal também destaca que Bolsonaro está sendo julgado no STF, uma “instituição que acumulou poderes extraordinários na última década”, e que conta com um dos “mais polêmicos juízes”, Alexandre de Moraes.
“Moraes foi uma das supostas vítimas do complô, e ainda assim iniciou a investigação sobre o suposto golpe, fez parte da comissão que concordou em ouvir o caso e agora ajudará a julgar Bolsonaro”, explica o FT. “Excepcionalmente, em comparação com outros países, no Brasil, os principais juízes podem iniciar e executar suas próprias investigações criminais se acreditarem que há uma ameaça à própria instituição”.
“O envolvimento de Moraes levou a acusações de conflito de interesses porque ele era alvo do suposto complô. Bolsonaro diz que o juiz é tendencioso a favor de Lula e movido por uma ambição pessoal de se tornar presidente”, destaca o jornal.
Ao comentar sobre o tema, o STF rejeitou as acusações de parcialidade ou irregularidade, afirmando que “segue os procedimentos legais e constitucionais à risca”. “A narrativa de que a Suprema Corte brasileira já teve uma postura autoritária ou censora não corresponde aos fatos reais ou à verdade”, declarou o presidente do tribunal, Luís Roberto Barroso, ao FT.