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Alexandre de Moraes fez ameaças que levaram Cid a modificar depoimento; entenda

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, dirigiu ameaças ao tenente-coronel Mauro Cid durante uma audiência realizada em 21 de novembro de 2024. O episódio veio a público na quarta-feira (19) com a divulgação integral da delação premiada do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) pelo magistrado, após o envio ao STF da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente e outras 33 pessoas.

Os documentos revelados trazem, pela 1ª vez, a íntegra das audiências envolvendo Mauro Cid, incluindo diálogos diretos entre Alexandre Moraes e o delator de Bolsonaro.

“Eu quero fatos, por isso eu marquei essa audiência. Eu diria que é a última chance do colaborador dizer a verdade sobre tudo”, afirmou Alexandre de Moraes ao destacar divergências entre as provas apresentadas pela Polícia Federal (PF) e os depoimentos anteriores de Cid, realizados em setembro de 2023 e junho de 2024.

“Eu vou passar a palavra a ele [Cid], só que eu já… Porque depois – e quero, aqui, não vai dizer que não avisei –, depois eu tenho aqui um relatório detalhado não só da investigação como do novo relatório que a Polícia Federal está apresentando agora, encerrando a investigação sobre a tentativa de golpe, com 700 páginas detalhadas”, continuou Alexandre de Moraes, insinuando que incompatibilidades do relatório da PF com a delação poderiam comprometer Cid.

Diante da possibilidade de ter seu acordo de colaboração premiada rescindido, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro alterou trechos fundamentais de seu depoimento. Durante a audiência, Alexandre de Moraes alertou que eventuais contradições ou omissões poderiam resultar não apenas na prisão preventiva de Cid, mas também na anulação do acordo, com repercussões para sua família, incluindo seu pai, sua esposa e sua filha maior.

Quando disse que a família de Mauro Cid poderia perder os benefícios, Alexandre de Moraes destacou: “saliento essa parte pela importância”. Entre os benefícios concedidos à família de Cid está a atuação da Polícia Federal (PF) para garantir sua segurança.

“Eu quero recordar, nos termos da colaboração premiada, na cláusula da parte IV, os benefícios pleiteados pelo colaborador: 1) perdão judicial ou pena privativa de liberdade não superior a dois anos; 2) restituição de bens e valores pertencentes ao colaborador que efetivamente tiverem sido aprendidos; 3) – e saliento essa parte pela importância – extensão dos benefícios para pai, esposa e filha maior do colaborador no que for compatível; e 4) ação da Polícia Federal visando garantir a segurança do colaborador e seus familiares”, afirmou Alexandre de Moraes na audiência.

Em seguida, o magistrado do Supremo Tribunal Federal (STF) foi ainda mais enfático com Cid:

“Moraes: Eventual rescisão [da colaboração] englobará inclusive a continuidade das investigações e responsabilização do pai do investigado, de sua esposa e de sua filha maior. Eu gostaria de saber se o colaborador está plenamente ciente das consequências da manutenção dessas omissões e contradições.

Cid: Sim, senhor”.

“Agora, o colaborador tem também não só benefícios, tem também obrigações. E as obrigações, a maior delas, das obrigações, é falar a verdade, é não se omitir, não se contradizer. Não há, na colaboração premiada, essa ideia de que só respondo o que me perguntam. Não! O colaborador ou colabora com dados, com dados efetivos, até porque há um requisito essencial pra que os benefícios sejam concedidos: a efetividade da colaboração. Se não houver efetividade da colaboração, se a colaboração em nada auxiliou, não há por que, dentro dessa ideia de justiça colaborativa, a justiça premial, se dar os benefícios. Então, a questão aqui é muito importante em relação à veracidade das informações e, mais do que isso, a não omissão das informações importantes”, afirmou Alexandre de Moraes em outro trecho.

Após essa conversa com Moraes, Mauro Cid modificou seu relato sobre a reunião com Bolsonaro em novembro de 2022, na residência do general Braga Netto. Inicialmente descrito como um encontro informal, o evento passou a ser apontado como uma reunião para planejar estratégias de instabilidade social que justificassem uma possível intervenção das Forças Armadas.

Mauro Cid também acabou vinculando, de forma mais direta, o ex-presidente da República e seus aliados ao suposto plano de golpe de Estado.

As novas informações obtidas na audiência garantiram a manutenção do acordo de delação premiada do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

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Gianlucca Gattai

Gianlucca Gattai

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