Claudio Dantas
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Exclusivo: Movida a diesel, COP30 emitirá toneladas de CO2 na atmosfera

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A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), marcada para novembro no Pará, vai emitir no mínimo 300 toneladas de CO2 durante sua realização; o equivalente à queima de mais de 4 milhões de litros de gasolina. É o mesmo que 6 mil viagens de avião entre São Paulo e Rio de Janeiro ou de um automóvel rodando 3 milhões de quilômetros.

O cálculo considera todos os itens contratados pela Secretaria Extraordinária para a COP30 para a montagem e funcionamento do evento durante 11 dias, incluindo cerca de 127 mil aparelhos de ar-condicionado e 104 geradores movidos a diesel, com potência de 150 KVA a 1000 KVA.

Energia da COP30 virá de geradores a diesel
Energia da COP30 virá de geradores a diesel

No caso dos geradores, o cálculo de 300 toneladas de CO2 é bastante conservador, pois considera o uso de biodiesel, muito menos poluente. Caso a organização opte pelo combustível fóssil, a emissão saltará para algo entre 2500 a 3000 toneladas. Esse número se multiplica milhares de vezes, considerando a pegada de carbono com o deslocamento de delegações e visitantes.

Sem contar as obras de infraestrutura executadas pelo governo de Helder Barbalho. Uma delas, a chamada Rota da Amazônia, já resultou na derrubada de mata nativa em área equivalente a 107 campos de futebol. Tudo isso torna a COP30 um evento de alta emissão de carbono, contrariando o próprio sentido de promoção de um mundo mais sustentável.

“A organização da COP30 seria muito mais eficiente em emissões de carbono se fosse feito em um local de eventos já existente no Brasil, preparado de acordo com padrões de eficiência como LEED ou outras certificações. A problemática da construção do espaço para um evento específico envolve muitos deslocamentos, obras, viagens aéreas entre outros impactos que seriam evitados em locais já preparados”, avalia Luiz Henrique Terhorst, CEO da Carbon Free Brasil, especializada em neutralização de emissões, projetos de redução de emissões e inventário de gases de efeito estufa.

Segundo Terhorst, “é essencial que seja mantido o plano de utilização do biodiesel nos geradores para que as emissões de carbono do evento não sejam astronômicas”.

“Com certeza isso deixa o evento mais caro (o biodiesel é muito mais custoso que o diesel comercial), mas é o custo que se aceita ao se realizar o evento em uma estrutura provisória com o calor e condições que encontramos no meio da floresta amazônica.”

No cálculo do inventário, usado pela reportagem com base no edital orçado em mais de R$ 423 milhões, também constam itens estruturais, como tubulações de aço, madeirite e lonas; todo o mobiliário adquirido especificamente para o evento e milhares de quilômetros de cabos de energia, transmissão de dados, computadores, televisores e itens que não precisariam ser adquiridos, produzidos ou transportados, caso o evento usasse qualquer local já disponível em território nacional para conferências desse tipo.

TEATRO INSUSTENTÁVEL

Ironicamente, o edital propõe o uso de materiais sustentáveis apenas no tocante à “cenografia artística”, ou seja, a decoração do evento. Nesse caso, fala-se em “valorizar a cultura local, incorporando elementos naturais da Amazônia, como buriti, açaí, vegetação nativa, produtos e artesanato indígenas, obras de artistas visuais amazônicos e outros itens que tenham representação local”.

“A abordagem prioriza a sustentabilidade, a autenticidade cultural e a conexão com o ambiente natural da região, criando um espaço imersivo e impactante para participantes de todo o mundo.”

Os problemas de planejamento do evento se estendem à ausência de estrutura de hospedagem para cerca de 60 mil pessoas, entre delegações estrangeiras, representantes de empresas, de ONGs e da imprensa. Cerca de 25 países pediram ao governo Lula a mudança de local, outros solicitaram que suas despesas com hospedagem fossem cobertas pelo Brasil, devido aos preços extorsivos praticados.

Na semana passada, o vice-presidente do Bureau da COP, o panamenho Juan Carlos Monterrey Gómez, criticou duramente a organização do evento, classificando os altos preços como uma “insanidade” e afirmou haver falta de respeito por parte do governo brasileiro.

“Estou absolutamente impressionado, e francamente confuso, que pela 3ª vez neste Bureau, todas as regiões do mundo falaram com uma só voz à presidência brasileira eleita e ainda assim nossas palavras parecem entrar por um ouvido e sair pelo outro (…) Mais de 70% das delegações não reservaram acomodação. Esse único número diz tudo: os arranjos atuais são impossíveis.”

Para ampliar a disponibilidade de vagas, o governo Lula contratou dois navios de cruzeiro para aportarem na região; o que também aumentará a pegada de carbono do evento. Em carta aberta, o Observatório do Clima falou em “negligência” dos governos federal e estadual do Pará, alertando para o risco de um “vexame histórico”.

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