A Operação Take Back America prendeu há poucas semanas 18 brasileiros acusados de integrarem um esquema de tráfico de armas e fentanil para os Estados Unidos. A mídia brasileira registrou o feito, mas deu de ombros. Afinal, qual a importância desse punhado de criminosos em face do que vivemos hoje no Ceará, no Rio ou em São Paulo?
Explico: o grupo era formado por integrantes do PCC, da Tropa do Sete e do Trem Bala, alguns com ficha criminal extensa no Brasil. Mesmo assim, conseguiram entrar e se estabelecer legalmente em território americano, com passaporte fornecido pela Polícia Federal e vistos concedidos pelo serviço diplomático americano.
Como isso é possível? Não há resposta institucional, por enquanto. Mas a PF poderia estar interessada em levantar quais agentes forneceram passaportes para os citados criminosos e avaliar eventuais falhas. O governo de Donald Trump precisa fazer a mesma coisa.
Podem começar pelo caso de Talles Provette De Faria, de 34 anos. Ele morava em Barnstable e Plymouth. No Brasil, teve sua prisão decretada em 2019 por tráfico de drogas, porte ilegal de arma e roubo; o mandado de prisão segue em aberto desde 2022. Como poderia ter entrado nos EUA sem uma ajudinha de dentro?
Seria o mesmo tipo de ajuda que forjou os registros de migração de Filipe Martins? É um exagero pensar assim? Vendo a forma como as autoridades brasileiras reagiram escandalizadas à imposição de algemas para criminosos deportados pelos EUA, a resposta é não!
Vendo a forma como Nicolás Maduro reagiu à prisão e deportação de integrantes da gangue Tren de Aragua, a resposta é não e não! E, claro, sabendo que PCC e Tren de Aragua são parceiros, a resposta é não, não e não!
A diferença é que os 18 faccionados presos nos EUA serão deportados para o Brasil e não para a megaprisão de Nayb Bukele, como os venezuelanos. Aqui, devem ser recebidos com tapete vermelho, como Maduro, ou farão uma passagem rápida em algum presídio e voltarão às ruas logo que a mídia esquecer.
Tudo isso nos mostra claramente que a infiltração do crime organizado nas estruturas do Estado, seja brasileiro ou americano, é muito maior do que se imagina. O dinheiro infinito e ilegal do crime compra a todos, de funcionários de imigração a diplomatas, políticos e magistrados, criando um verdadeiro deep narco-state; muito, mas muito mais resistente do que uma tecnocracia normal.
É a máfia (estilo PCC) de braços dados com a guerrilha (estilo Comando Vermelho), em união estável com agentes públicos corruptos. Não deixa de ser irônico que Gilmar Mendes comparece a Lava Jato com o PCC, considerando que uma das primeiras operações da força-tarefa de Curitiba esbarrou com o narcotráfico, embora a investigação tenha evoluído pelo caminho da administração pública.
Fato é que o PCC real e o CV real já deixaram de ser um problema de segurança pública. Gangues e facções se transformaram em polos de poder transnacional, atuando como elementos de desestabilização política, econômica e social. São, de fato, um problema de segurança nacional. Quem diz defender a soberania brasileira, deveria começar a se dedicar ao tema, não como Ricardo Lewandowski se dedica.
Na verdade, é preciso reagir prontamente à PEC da Segurança Pública e substituí-la por uma legislação moderna que equipare o crime organizado ao terrorismo, que blinde a economia e a máquina pública de infiltrações, que desestimule a criminalidade com penas duríssimas. Fato é que a democracia brasileira está abaladíssima e não por um suposto golpe empreendido pelo pipoqueiro, pelo vendedor de picolé e pela cabeleira.