Para o cientista político Fernando Schüler, o Brasil tem se tornado um “experimento social” nos últimos anos, o que, segundo ele, expõe a falha da ideia de um “Estado disciplinador da verdade” ou “guardião da democracia” na prática.
Durante o programa WW Especial, da CNN Brasil, Schüler argumentou que o país vive há cerca de 5 ou 6 anos sob a lógica de que a democracia precisa de medidas excepcionais para se proteger.
“Nós precisamos dar poderes especiais para o Estado, poderes subjetivos de interpretação sobre a sua alma”, criticou o professor do Insper, alertando para os riscos dessa concepção.
Ele também criticou a “aceitação” da censura prévia no Brasil nos últimos anos, mencionando casos como a proibição de um documentário sem que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) o tivessem assistido.
Além disso, Schüler citou a censura ao economista Marcos Cintra, que questionou os resultados eleitorais, e ao youtuber Monark, punido por defender a legalidade de um partido nazista no Brasil.
O professor alertou: “Isto é uma enorme ladeira escorregadia”, referindo-se à recente interferência estatal, até mesmo em questões como a letra de uma música.
Ele defendeu que tais discussões devem ocorrer no “mercado de ideias”, sem a mediação do Estado.
Schüler concluiu seu raciocínio advertindo sobre os riscos de se aceitar “uma pitadinha de autoritarismo instrumental” sob o pretexto de “proteger” a democracia, ressaltando que essa abordagem pode, na realidade, enfraquecer os princípios democráticos que se pretende preservar.