O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou que Jair Bolsonaro vai aprovar o novo texto da anistia aos presos do 8 de janeiro mesmo internado na UTI, onde se recupera de uma cirurgia abdominal feita no domingo (13). A informação expõe a influência contínua do ex-presidente sobre o Legislativo, mesmo hospitalizado.
“Ele já deixou tudo pavimentado. A palavra final é dele do texto. Se não puder visitar no hospital, posso mandar por WhatsApp ou pela Michelle [Bolsonaro]”, disse Sóstenes. Segundo o parlamentar, Bolsonaro tem enviado mensagens diretamente da UTI, demonstrando que sua internação não interferiu nas articulações políticas.
De acordo com o hospital DF Star, Bolsonaro apresenta evolução clínica, mas não há previsão de alta. Ele deverá permanecer internado por ao menos duas semanas e, após a alta, enfrentará um pós-operatório restritivo por até três meses.
O ex-presidente publicou uma imagem nas redes sociais onde aparece lendo um documento no hospital. A equipe médica segue proibindo visitas, mantendo sigilo sobre detalhes do tratamento.
A proposta de anistia segue em formulação por técnicos do PL, que trabalham para enxugar o texto, como orientado por Bolsonaro. A intenção, segundo aliados, é reduzir a resistência na Câmara. O ex-presidente teve reunião sigilosa com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), no último dia 9, fora da agenda oficial.
O texto atual do projeto prevê anistia não apenas aos envolvidos nos atos do 8 de janeiro, mas também a responsáveis por manifestações anteriores e até futuras contra os Três Poderes — o que é interpretado como uma brecha para beneficiar Bolsonaro. A proposta, contudo, ainda não deixa claro se ele e outros réus por tentativa de golpe seriam incluídos.
O PL protocolou o pedido de urgência para votação com 262 assinaturas, número suficiente para levar o tema diretamente ao plenário. A decisão, porém, está nas mãos do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que tentou dividir a responsabilidade com os líderes partidários. “Democracia é discutir com o Colégio de Líderes as pautas que devem avançar. Ninguém decide nada sozinho”, afirmou em publicação nas redes.