O analista em defesa e segurança pública, Alessandro Visacro em entrevista ao programa diário do Claudo Dantas, Alive, alertou que facções criminosas, como o PCC e o Comando Vermelho, “transcendem o problema de segurança pública, tornando-se uma ameaça direta à soberania nacional”. Ele classificou a atuação desses grupos como parte de uma “guerra híbrida” e criticou a ausência de uma abordagem integrada para lidar com a questão.
“Não estamos falando apenas de segurança pública ou de um problema restrito aos Estados. As facções criminosas representam uma ameaça à soberania nacional e, portanto, colocam o problema no colo do presidente da República, que é o comandante-chefe. Precisamos repensar o uso das Forças Armadas e capacitá-las para combater o crime organizado de forma estratégica”, afirmou Visacro.
Visacro destacou que, apesar de as forças de segurança pública se desdobrarem para conter a atuação do crime organizado, o próprio Estado muitas vezes impõe restrições que limitam a eficiência dessas operações. “Há uma dissonância dentro do Estado. Enquanto a polícia luta para fazer mais do que sua atribuição, o mesmo Estado cria barreiras que restringem cada vez mais sua atuação”, criticou.
O especialista apontou que é necessário reavaliar a ameaça representada pelas facções e estruturar uma abordagem que vá além das medidas coercitivas. “Precisamos de uma política de Estado, não de programas de governo. Isso exige uma abordagem integrada e multidimensional, que reúna as capacidades coercitivas e não coercitivas disponíveis no Estado e na sociedade”, afirmou.
Visacro destacou a gravidade da situação no Rio de Janeiro, onde favelas foram transformadas em verdadeiros enclaves controlados por grupos criminosos. “Esses territórios são governados por normas e sistemas de justiça informal impostos pelos criminosos. Não é anarquia; é uma governança híbrida que subjuga centenas de milhares de pessoas a dinâmicas sociais alheias às do Estado”, explicou.
Ao tratar do uso das Forças Armadas no combate ao crime organizado, Visacro ressaltou que, em toda a América Latina, os militares têm sido empregados contra insurgências criminais. No entanto, ele criticou a forma como isso é feito.