A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) executou uma operação hacker contra autoridades do governo do Paraguai com aval do diretor da Abin nomeado por Lula, Luiz Fernando Corrêa. A ação, segundo relevalção do colunista Aguirre Talento (UOL), teve como alvo a obtenção de informações sigilosas sobre a negociação das tarifas da usina hidrelétrica de Itaipu, um tema sensível nas relações entre os dois países. A Polícia Federal agora investiga se a operação foi ilegal.
De acordo com depoimento prestado à PF por um servidor da Abin, a ação envolveu a invasão de computadores do governo paraguaio utilizando o programa Cobalt Strike, ferramenta usada para intrusão em sistemas. “O objeto da operação era a obtenção dos valores que seriam negociados do anexo C dos valores de venda de energia produzida por Itaipu”, afirmou o agente. Um segundo servidor confirmou a existência da operação, mas sem detalhar sua participação.
A invasão ocorreu meses antes do governo brasileiro fechar um novo acordo com o Paraguai, em maio de 2024. Na ocasião, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, negociou um reajuste na tarifa da energia, embora abaixo do valor desejado pelo governo paraguaio. O tratado de Itaipu prevê renegociações periódicas das condições comerciais da usina, e o Paraguai vinha pressionando por aumentos nos repasses.
Segundo o agente da Abin, os ataques não partiram do Brasil. A inteligência brasileira montou servidores virtuais no Chile e no Panamá para ocultar a origem dos acessos. “Foram invadidos o Congresso paraguaio, Senado, Câmara e Presidência da República”, revelou o depoente. Senhas e dados de usuários de autoridades paraguaias foram capturados para acesso a informações sensíveis.
A ação foi aprovada pelo então diretor da Abin, Victor Carneiro, no final do governo Bolsonaro, e mantida pela nova gestão. Segundo o depoente, a operação foi “apresentada pessoalmente” a Luiz Fernando Corrêa, que teria “vibrado” ao saber da iniciativa. Corrêa, homem de confiança de Lula, já comandou a Polícia Federal no segundo governo petista.
A investigação da PF teve início apurando suspeitas de espionagem política durante a gestão de Alexandre Ramagem na Abin, mas acabou identificando possíveis irregularidades na atual direção do órgão. Nos bastidores, a escalada das apurações sobre Corrêa é vista como parte de uma disputa interna entre ele e o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, aliado do governo Lula.
Procurados, Luiz Fernando Corrêa e a assessoria da Abin não se manifestaram.