19 de setembro de 2024
NOT NEWS

A soberania relativa

É curioso como certas narrativas são construídas na mídia brasileira. A mais recente delas trata da suposta violação da nossa ‘soberania’ pelo bilionário Elon Musk, que, segundo certos juristas e jornalistas, não passa de um playboy com mania de grandeza e dado a golpes de Estado. Enquanto isso, um poderoso escritório de advocacia londrino avança sem qualquer pudor em ação indenizatória contra a Vale e a BHP pelo rompimento de Mariana, ignorando a Justiça brasileira. O Supremo faz cara de paisagem, o que torna tudo ainda mais irônico.

O valor da causa que corre em Londres pode chegar a cerca de R$ 270 bilhões, sendo que a banca Pogust Goodhead ficará com até 30% desse valor em honorários advocatícios. Em entrevista ao Poder360, neste domingo, Tom Goodhead se orgulha em dizer que representa cerca de 700 mil brasileiros que teriam sido atingidos pelo desastre, 46 municípios nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia, além de “milhares de pequenas empresas membros de comunidades indígenas e igrejas”.

“Temos centenas de milhares de pedaços de papel, de procurações. Temos fotografias, em que as pessoas seguram uma carteira de identidade”, conta Tom, ao se referir a seus milhares de clientes na causa. Segundo ele, as diligências do escritório, que tem dezenas de parceiros brasileiros, é financiada por fundos de investimento. “Sem esse tipo de financiamento, é impossível trazer esses casos (…) Londres é provavelmente o lugar mais caro para litigar no mundo (…) O que as empresas chamam de ‘fundos abutres’, nós, representando as vítimas, vemos que realmente eles facilitam o acesso à Justiça.”

Ah, sim, o escritório de Tom já identificou nesse tipo de atuação uma ‘mina de ouro’. “No Brasil, não é só o caso de Mariana. A gente tem o caso da Braskem, de Brumadinho, da Cutrale.” Dias atrás, patrocinou um encontro de juristas para angariar apoio e se blindar de críticas. Advogados conhecidos dos corredores de Brasília, como Kakay, já abraçaram a causa de Tom. O Supremo se prepara para analisar uma ação patrocinada pelo Ibram contra esse tipo de by-pass ao Judiciário brasileiro.

Flávio Dino, relator, enviou o caso para o plenário físico de 11 ministros, embora pudesse ter agido como Alexandre de Moraes no caso de Elon, restringindo a questão à Turma, no pleno digital, sem qualquer discussão pública. Pelo visto, a soberania brasileira é como a democracia: relativa.

Compartilhar nas redes sociais

Claudio Dantas

Claudio Dantas

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia mais

Elon Musk
blackwater
Xmagnus
LULA E MARINA
Mauro Tramonte
Felipe Camozzato Live
Porto Alegre
Live Mourão
Datena
Screenshot_20240915_233949_WhatsApp
Donald Trump
Antônio Campos