Carlos Lupi (PDT) acaba de entregar o cargo de ministro da Previdência, após reunião com Lula. A demissão se tornou inevitável com o agravamento da crise envolvendo o roubo bilionário dos aposentados.
A nomeação ontem do novo presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, sem consulta prévia ao PDT, já sinalizava o enfraquecimento do ministro.
Em nota, Lupi disse tomar a decisão “com a certeza” de que seu nome “não foi citado em nenhum momento nas investigações em curso, que apuram possíveis irregularidades no INSS” e que “todas as apurações foram apoiadas desde o início” por sua gestão.
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CPI DO ROUBO OS VELHINHOS
O governo espera que a saída de Lupi reduza o desgaste de Lula e esvazie a pressão pela instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, que já foi protocolada na Câmara e pode ganhar em breve uma versão no Senado, fundindo-se numa comissão mista com potencial para emparedar o governo num ano pré-eleitoral.
O escândalo das contribuições associativas veio à tona há dois anos em reportagens do site Metrópoles. A deputada federal Bia Kicis (PL/DF) requereu então ao TCU a abertura de uma auditoria, que acabou por confirmar as denúncias iniciais e apontar para um verdadeiro esquema criminoso, depois corroborado pela CGU e agora investigado pela Polícia Federal.
Estima-se um desvio de ao menos R$ 6,4 bilhões.
Ao contrário do que diz em sua nota, Lupi nada fez diante do problema. Dias atrás, ao participar de audiência na Câmara, ele admitiu que soube das denúncias, mas não imaginava sua extensão, o que apenas comprovou sua prevaricação diante das ilegalidades.
As queixas de aposentados sobre descontos ilegais de mensalidades associativas explodiram na Justiça e em órgãos de defesa do consumidor, desde 2023. O deputado Evair de Melo (PP/ES) também encaminhou ao então ministro ofício com alertas e pedido de providências.
Apesar de seu nome ainda não ter aparecido nas investigações, a notória prevaricação de Lupi ganha ares de cumplicidade com o envolvimento de subordinados diretos e indicados do PDT, partido que comanda com mão de ferro. O esquema, porém, envolve outras siglas, tanto em nível federal, como estadual e municipal.
COMO FUNCIONAVA
A gestão de Lupi se caracterizou pela assinatura de ‘acordos de cooperação técnica’ que qualificavam sindicatos e associações — sem qualquer tradição ou mesmo afiliados — a descontarem de aposentados as chamadas mensalidades associativas, muitas vezes aplicadas sem autorização do aposentado ou a partir de “vendas casadas” de crédito consignado.
Mais bizarro é que a Dataprev, cujo presidente ainda permanece no cargo, autorizava os descontos no sistema com base em listas de aposentados fornecidas pelas próprias associações, sem qualquer fé pública ou sistema de controle de autenticidade. As autorizações, como se descobriu depois, eram falsas na maioria dos casos.
O governo Lula, só a partir da operação da Polícia Federal e do agravamento da crise, com ampla cobertura da imprensa, é que decidiu tomar providências reais, suspendendo as cobranças e novas averbações.
A demora é explicada por vários fatores, inclusive pelo envolvimento de sindicato que tem o irmão de Lula como vice-presidente. Várias associações também têm como advogados parentes de ministros de cortes superiores em Brasília e outros vinculados ao PT, mas não só. O risco de uma operação abafa é grande, por isso a CPI se torna tão relevante a partir de agora.