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Progressistas em Pânico: A Direitista Que Quebra a Narrativa

Por Leonardo Corrêa*

Rótulos me incomodam. São simplificações que mais distorcem do que explicam. Como libertário, abomino qualquer totalitarismo, seja ele nazismo, fascismo ou comunismo. Cresci ouvindo as histórias do meu avô materno, que lutou na Segunda Guerra Mundial contra os nazistas, pela Força Aérea Brasileira na Itália. Quando ouvi falar de Alice Weidel, retratada como líder de um partido “ultradireitista” e “anti-imigrante”, resolvi investigar. A versão que a mídia apresenta não batia com alguns detalhes curiosos: ela mora na Suíça, é casada com uma mulher do Sri Lanka e tem filhos. Mesmo assim, não faltam manchetes a carimbando como extremista, fascista e até nazista. A narrativa parecia um tanto forçada, então decidi ir além das etiquetas fáceis.

Foi assim que cheguei à matéria do Estadão, que reforça a ideia de uma contradição entre sua vida pessoal e suas posições políticas. O texto menciona que Weidel evita expor sua vida privada e se recusa a explorá-la politicamente. Mas curiosamente, o mesmo jornal que tanto defende o direito à privacidade para certos políticos trata esse detalhe da vida de Weidel como um elemento central. E a verdade é que ela nunca escondeu nada. Seu casamento e sua família são conhecidos há anos, e ela já os mencionou em entrevistas. Apenas faz uma separação clara entre vida pessoal e política – algo que qualquer político deveria ter o direito de fazer, sem suspeitas ou insinuações.

Mas vamos ao ponto: o que realmente significa ser “ultradireita”? Os rótulos jogados contra Weidel parecem ter pouca base conceitual. Extrema-direita e ultradireita costumam ser termos usados para descrever grupos que rejeitam a democracia, defendem autoritarismo ou pregam políticas excludentes baseadas em raça e etnia. Mas a reportagem do Estadão não traz uma única citação de Weidel apoiando algo do tipo. Ainda assim, insistem na vinculação dela a essas ideias.

Fascismo, por definição, é um regime autoritário que rejeita o liberalismo e o socialismo, concentrando poder no Estado e promovendo um nacionalismo agressivo. O modelo clássico é o de Benito Mussolini, com governo de partido único, controle total da economia e subordinação do indivíduo ao coletivo. O nazismo, por sua vez, era ainda mais radical, combinando totalitarismo com um projeto de supremacia racial e extermínio de grupos que Hitler considerava inferiores.

Agora, olhemos para Weidel. Casada com uma mulher imigrante. Mãe de filhos de origem estrangeira. Mora fora da Alemanha. Se fosse fascista, já teria se deportado. Se fosse nazista, teria problemas dentro da própria casa. Se fosse ultradireitista no sentido clássico, não aceitaria viver de maneira tão distante dos valores tradicionalistas rígidos. O próprio Estadão admite que Weidel chegou ao topo do AfD por inteligência e experiência, não por discursos extremistas. Mas ao invés de explorar essa ascensão, a matéria se esforça para fazer parecer que há algo incoerente em sua trajetória.

A verdade é que Weidel se encaixa muito mais no que se poderia chamar de libertária nacionalista. Defende fronteiras bem protegidas, soberania nacional e políticas migratórias mais rigorosas, mas sem qualquer traço de autoritarismo. Quer menos burocracia, mais liberdade econômica e um Estado que proteja a cultura e a identidade do país sem interferir excessivamente na vida dos cidadãos. Pode-se concordar ou discordar dessas ideias, mas nada nelas remete a um projeto totalitário.

Seus posicionamentos seguem uma linha coerente. Sobre imigração, Weidel defende um controle rígido da entrada de estrangeiros e deportações de ilegais, além do fim da política de asilo irrestrito. Na economia, apoia um mercado mais livre, critica os pacotes de resgate da União Europeia e questiona a permanência da Alemanha no euro. Em política energética, se opõe à transição apressada para renováveis e defende a manutenção do carvão e do gás para garantir a competitividade alemã.

Ela também rejeita a ideologia de gênero e as tentativas de reconfiguração social impostas pelo progressismo. Apesar de ser homossexual, Weidel se recusa a seguir o script da militância LGBTQ+. Sua postura lembra os Gay Republicans nos EUA, que são atacados por progressistas por não apoiarem a agenda identitária. Para Weidel, ser gay não significa obrigatoriamente endossar a cartilha de esquerda. Sua visão é individualista: as pessoas devem ser julgadas por seus méritos, não por pertencimento a um grupo.

E é exatamente isso que incomoda os progressistas. O que realmente os perturba não é a agenda política de Weidel, mas o fato de ela ser um exemplo vivo de que um homossexual pode não só ser conservador, como também se opor ao coletivismo identitário. Para a esquerda militante, minorias só têm legitimidade política quando seguem a cartilha progressista. Alguém como Weidel desmonta essa lógica e prova que há diversidade de pensamento entre grupos que a esquerda acredita controlar. Esse é o verdadeiro problema: ela desafia um dos dogmas centrais do progressismo e, por isso, precisa ser rotulada, marginalizada e reduzida a um estereótipo falso.

Eis, portanto, a grande ironia. Seus críticos a chamam de extremista, mas sua vida pessoal desmente essa narrativa. A “nazista” tem uma família que Hitler proibiria. A “fascista” quer menos governo, não mais. A “ultradireitista” não se encaixa no molde que tentam impor a ela. Talvez fosse mais interessante criticá-la por suas ideias, mas aí daria mais trabalho. Prefiro aguardar e avaliá-la por suas ações. Infelizmente, o mundo passou a adotar julgamentos sumários, como a Rainha de Copas em Alice no País das Maravilhas, que bradava “Cortem-lhe a cabeça!” antes mesmo de um julgamento justo.

*Leonardo Corrêa – Advogado, LL.M pela University of Pennsylvania, Sócio de 3C LAW | Corrêa & Conforti Advogados, um dos Fundadores e Presidente da Lexum

 

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Leonardo Correa

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