A crise financeira dos Correios atingiu novo patamar. A estatal registrou prejuízo de R$ 1,72 bilhão no primeiro trimestre, mais que o dobro das perdas do mesmo período de 2024, que foram de R$ 801 milhões. É o pior resultado para o período desde 2017.
Comandada por Fabiano Silva dos Santos, ligado ao grupo Prerrogativas, a estatal acumula déficits desde 2022. O ambiente se agravou com queda de receita, concorrência privada e atrasos nos pagamentos a fornecedores. Em algumas agências, funcionários relatam falta de insumos básicos. “Recebo direto reclamações dos trabalhadores, faltando manga (papelão), durex e até envelope nos caixas para Sedex”, disse Elias Divisa, presidente do Sintect-SP ao O Globo.
Parte das transportadoras terceirizadas já paralisou por falta de pagamento, o que causou acúmulo de carga. A estatal afirma que adota medidas para reduzir custos, regularizar prazos e ampliar a distribuição com operações extras nos fins de semana.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) vai suspender voos contratados pelos Correios a partir desta quarta-feira (4) por problemas com transporte de produtos perigosos. A empresa alegou que as falhas são de gestões anteriores e negocia com a agência.
Uma auditoria do TCU identificou manobra contábil que reduziu artificialmente o prejuízo da estatal em 2023. A empresa reclassificou uma dívida de R$ 1,032 bilhão com base em liminar judicial e a substituiu por um valor simbólico de R$ 18. Com isso, o rombo declarado caiu de R$ 1,6 bilhão para R$ 663 milhões. O parecer técnico aponta descumprimento de normas e pede correção em até 90 dias.
A empresa afirma que o balanço está “em conformidade com as normas contábeis aplicáveis ao setor público e com respaldo jurídico”.
Os Correios também devem também R$ 274 milhões ao Postalis, fundo de previdência dos funcionários, referentes à parte patronal de duas mensalidades. O fundo confirmou o atraso e disse estar em negociação.
Apesar do lançamento de um Plano de Demissão Voluntária (PDV), há falta de carteiros em algumas regiões. Em Caraá (RS), moradores precisam ir até a agência para buscar correspondências. A empresa afirmou que novas convocações de aprovados em concurso serão feitas conforme necessidade e classificação.
Com 83 mil funcionários e 10 mil agências, os Correios anunciaram suspensão de férias, retorno ao trabalho presencial e pretendem cortar 3 mil postos para reduzir custos em R\$ 1,5 bilhão. A Fentect, federação nacional da categoria, obteve liminar contra o cancelamento de férias agendadas.
Hoje, apenas 15% das agências são superavitárias. A empresa afirma que investiu R$ 1,6 bilhão desde 2023 e culpa, em parte, a “taxação das blusinhas” pela perda de receita. Com a cobrança de imposto sobre compras internacionais de até US$ 50, plataformas estrangeiras passaram a contratar transportadoras privadas ou montar suas próprias redes.
Na última sexta-feira (30), o Banco Central divulgou um déficit desastroso de R$ 2,73 bilhões nas estatais brasileiras no primeiro quadrimestre de 2025, o maior saldo negativo da série histórica iniciada em 2002.
As seis maiores estatais controladas pelo governo petista ampliaram suas verbas de patrocínio no terceiro mandato do presidente Lula (PT). Segundo a Folha, Petrobras, Caixa, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Correios e BNDES torraram quase R$ 1 bilhão em 2024.
No governo Bolsonaro, os Correios foram incluídos no Plano Nacional de Desestatização, mas a proposta não avançou. Ao assumir, Lula retirou a estatal do programa.