Foi tragicômico assistir como lideranças políticas e jornalistas, aqui e lá fora, reagiram ontem ao bug do X. Eu apelidei de “verdadeiro bug do milênio”, mas muita gente apostou num xadrez 4D e na genialidade do bilionário Elon Musk, que teria promovido um by-pass no Supremo, passando a usar o sistema Cloudfare para hospedar o IP de sua plataforma. Os críticos, claro, acusaram o empresário de triplicar a aposta e debochar mais uma vez da soberania brasileira.

Hoje, o perfil de relações governamentais do X explicou que tudo não passou mesmo de um bug e que vem colaborando com o governo brasileiro para desbloquear o acesso aos 22 milhões de usuários – o que significa, na prática, cumprir as ordens de Moraes. Ironicamente, ao restaurar inadvertida e temporariamente o serviço, os perfis dos alvos que Moraes mandou bloquear e que o X se recusava a bloquear, foram finalmente bloqueados.

“Quando o X foi desligado no Brasil, nossa infraestrutura para fornecer serviço para a América Latina não estava mais acessível para nossa equipe. Para continuar fornecendo serviço ideal para nossos usuários, mudamos de operadora de rede. Essa mudança resultou em uma restauração inadvertida e temporária do serviço para usuários brasileiros. Embora esperemos que a plataforma fique inacessível novamente em breve, continuamos os esforços para trabalhar com o governo brasileiro para que ela retorne o mais breve possível”, esclareceu o X.

A nova postura do X é resultado de uma equação política e comercial, defendida por alguns ministros do Supremo em conversas com advogados. O raciocínio se resume a uma frase que ouvi: “Vale a pena punir 22 milhões de brasileiros e as finanças da própria empresa por causa de algumas dezenas de arruaceiros?” Ou seja, a culpa não é do ministro alvo de um pedido de impeachment por abuso de autoridade, mas de suas vítimas. Nesse caso, mexeu com um nunca será mexeu com todes.

Moraes já determinou nova multa contra o X no valor de R$ 5 milhões pelo “erro”. A Anatel está orientada a garantir junto aos servidores Cloudfare, Fastly e Edgeuno que sua ordem de bloqueio volte a ser cumprida. Musk deve deixar a batalha política para os parlamentares republicanos, que apresentaram projeto para barrar a entrada nos EUA de autoridades estrangeiras que pratiquem censura.