O presidente da Argentina, Javier Milei, enfrenta uma crise política após promover a criptomoeda $LIBRA em suas redes sociais. O ativo teve uma valorização inicial significativa, mas colapsou rapidamente, resultando em perdas para milhares de investidores.
Dados da plataforma Lookonchain apontam que US$ 107 milhões foram desviados do projeto em um suposto “rug pull”, um golpe financeiro comum no mercado cripto. O montante supera todas as perdas registradas por esse tipo de fraude em 2024, segundo a empresa de segurança blockchain SlowMist.
Afinal, o que é o rug pull, que agora passa a ser investigado pela Câmara Argentina Fintech? O golpe que recebeu esse nome consiste em criminosos que lançam uma nova criptomoeda e investem em marketing para atrair investidores, geralmente com o apoio de celebridades e influenciadores. Depois que o projeto ganha tração e o preço do ativo digital dispara, os criadores vendem suas participações, embolsam os lucros e desaparecem, deixando os investidores com ativos sem valor.
Milei negou que tenha promovido a criptomoeda $LIBRA e afirmou que apenas “divulgou” o projeto em sua rede social. Em entrevista à TV local TN na segunda-feira (17), o argentino tentou se desvincular da polêmica, alegando que não teve participação ativa na promoção da criptomoeda. “Eu não promovi [o suposto golpe]; o divulguei”, declarou o presidente, argumentando ter agido “de boa fé”.
Segundo o presidente, a ideia parecia interessante porque visava financiar empresas argentinas, mas ele decidiu apagar a publicação quando percebeu os desdobramentos do caso. “Alguém vem e me propõe criar um instrumento para financiar projetos; me parece interessante. Por querer ajudar os argentinos, tomei um golpe”, afirmou.
Linha do tempo do escândalo
-
14 de fevereiro: Milei publica no X (antigo Twitter): “A Argentina liberal está crescendo!!! Este projeto privado será dedicado a incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenos negócios e empreendimentos argentinos. O mundo quer investir na Argentina. $LIBRA”, publicou o economista libertário, que sempre foi um entusiasta da “tokenização” da economia.
-
14 de fevereiro: Após esse endosso, a capitalização de mercado da $LIBRA subiu para mais de US$ 4 bilhões, impulsionada por cerca de 40 mil compradores, segundo especialistas.
- 14 de fevereiro: No entanto, em poucas horas o valor da $LIBRA despencou. Isso aconteceu depois que um pequeno grupo de carteiras digitais retirou quase US$ 90 milhões.
-
14 de fevereiro: Milei apaga o tweet original e publica: “Publiquei um tweet apoiando um suposto empreendimento privado com o qual obviamente não tenho conexão. Não conhecia os detalhes do projeto e, ao tomá-los conhecimento, decidi não continuar promovendo-o.”
-
15 de fevereiro: O valor da criptomoeda despenca 92%, caindo para US$ 343 milhões.
- 16 de fevereiro: Um dos principais “donos” da $LIBRA, o empresário americano Hayden Mark Davis, postou em suas redes sociais um comunicado e um vídeo no qual afirma ser assessor do presidente e que está “trabalhando com ele e sua equipe” em projetos de tokenização de ativos na Argentina. Davis observou que “o lançamento definitivamente não saiu como planejado”. Mas negou uma das principais acusações que surgiram sobre o token: que se tratava simplesmente de uma fraude por meio de uma manobra conhecida em inglês como rug pull, algo como “puxada de tapete”.
-
16 de fevereiro: A plataforma Bubblemaps revela que 83% do fornecimento da $LIBRA estava concentrado em poucas carteiras.
-
16 de fevereiro: A oposição peronista anuncia que buscará o impeachment de Milei, acusando-o de promover um esquema fraudulento.
-
17 de fevereiro: A Justiça argentina inicia uma investigação por possível fraude contra Milei, liderada pela juíza federal María Servini de Cubría.
Após o colapso da criptomoeda, a oposição reagiu duramente e chegou a cogitar um pedido de impeachment contra Milei. “Esse escândalo, que nos envergonha em escala internacional, exige que apresentemos um pedido de impeachment contra o presidente”, declarou o deputado Leandro Santoro, membro da coalizão opositora.
A coalizão Peronista-Kirchernista União pela Pátria e pelo Socialismo anunciou que avançará com um pedido de impeachment no Congresso. A medida, que primeiro deve ser analisada em comissão, exigirá a aprovação de dois terços dos votos da Câmara dos Deputados para avançar. Como Milei tem maioria no Legislativo, as chances de avanço são poucas, mas haverá um custo político.
A Justiça argentina, sob a liderança da juíza María Servini de Cubría, iniciou uma investigação contra Milei. A ONG Observatório do Direito à Cidade acusou Milei e outros funcionários de associação ilícita, fraude e descumprimento de deveres públicos, afetando mais de 40.000 pessoas com perdas superiores a 4 bilhões de dólares. Segundo advogados argentina, consultados pela Associated Press (AP) o presidente de fato pode ter cometido crimes como associação ilícita e fraude.
A juíza vai consolidar a ação original juto com outras movidas no fim de semana contra o presidente pelos supostos crimes de fraude, negociação incompatível com cargo público e violação da lei de Ética Pública.
DEU PREJU TOTAL!
O escândalo impactou a economia argentina. A Bolsa de Buenos Aires caiu mais de 5% e o peso argentino desvalorizou 2% frente ao dólar. Mesmo que o presidente Argentino ainda pudesse ser uma vitima.
Acontece que o montante “roubado” pelo projeto $LIBRA é 4% superior as perdas registradas em todo o ano 2024 por esse tipo de esquema. No ano passado, a SlowMist registrou 58 rug pulls, totalizando US$ 106 milhões em perdas. Esse tipo golpe representou apenas 14,1% das perdas no mercado cripto no ano passado. Quando se incluem outras formas de fraudes e problemas de segurança, os prejuízos somam mais de US$ 2 bilhões.
Esta não é a primeira vez que Milei se envolve em controvérsias relacionadas a criptomoedas. Em 2021, ele promoveu a plataforma CoinX, que posteriormente foi investigada por fraude. A repetição desses incidentes levanta questões sobre o julgamento e a responsabilidade do presidente em relação a investimentos financeiros de alto risco.
O governo argentino continua negando oficialmente qualquer ligação com a $LIBRA, e divulgou duas medidas em resposta ao golpe:
Foi decretada a “intervenção imediata ao Gabinete Anticorrupção (OA) para determinar se houve conduta imprópria por parte de algum membro do Governo Nacional, incluindo o próprio presidente”, conforme comunicado do relato do Gabinete do Presidente em X.
Já Milei anunciou a criação do que eles chamam de Unidade Tarefa de Investigação (UTI), que funcionará sob a órbita da Presidência da Nação (liderada por Karina Milei, irmã e braço direito do presidente) e terá a função de analisar o caso.
Uma resposta