25.5 C
Brasília

Governo sírio anuncia fim de operação militar após denúncias de “limpeza étnica”

Publicado em:

Em meio a acusações de limpeza étnica e genocídio, o Ministério da Defesa da Síria anunciou na manhã desta segunda-feira (10) a conclusão das operações militares contra os apoiadores remanescentes do ex-ditador Bashar al-Assad, deposto em dezembro.

Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), os confrontos entre os seguidores de Assad e os novos governantes do país já resultaram em mais de 1.000 mortos, a maioria civis.

A violência teve início na última quinta-feira (06), quando o novo governo sírio reprimiu uma insurgência da minoria alauita, grupo étnico ao qual pertence Assad, nas províncias de Latakia e Tartous, no noroeste do país.

O atual governo sírio é composto por uma coalizão de grupos rebeldes que tomou o poder de Assad após uma ofensiva relâmpago em dezembro do ano passado. A liderança dos rebeldes é exercida pelo grupo Hayat Tahrir al Sham (HTS), Organização para Libertação do Levante, que tem Ahmad al-Sharaa como presidente da Síria.

O OSDH, com sede no Reino Unido e uma rede ampla de informantes na Síria, relatou a morte de 745 civis, 125 membros das forças de segurança sírias e 148 combatentes leais a Assad. No entanto, as autoridades sírias ainda não divulgaram números oficiais sobre o total de mortos.

Rami Abdulrahman, chefe do OSDH, destacou que entre os civis mortos estão mulheres e crianças alauitas. Ele comparou a gravidade dos ataques ao ataque com armas químicas realizado pelas forças de Assad em 2013, que matou cerca de 1.400 pessoas em um subúrbio de Damasco, capital da Síria.

A Federação de Alauítas na Europa acusou o novo governo sírio de promover uma “limpeza étnica sistemática”. Um porta-voz da federação declarou à TV Grupo que as forças governamentais estão “jogando corpos no mar ou os queimando” e solicitou ajuda internacional.

Em discurso transmitido em rede nacional no domingo (09), Ahmad al-Sharaa anunciou a formação de uma “comissão de investigação independente” para apurar os massacres de civis. O presidente afirmou que os responsáveis pelos “derramamentos de sangue” serão identificados e levados à justiça.

“Ninguém estará acima da lei”, afirmou al-Sharaa, prometendo total responsabilidade para qualquer pessoa envolvida em abusos contra civis.

O presidente da Síria, cuja coalizão derrubou Assad em dezembro, também acusou os seguidores do ex-ditador e potências estrangeiras não especificadas de incitarem a agitação no país. “Estamos diante de um novo perigo – tentativas dos remanescentes do antigo regime e seus apoiadores estrangeiros de incitar novos conflitos e arrastar nosso país para uma guerra civil”, afirmou.

Durante discurso em uma mesquita de Damasco, al-Sharaa também declarou que os eventos atuais eram “desafios previsíveis”, enfatizando a importância de preservar a unidade nacional e a paz civil, destacando que, se possível, o país viveria junto em harmonia.

A violência teve início com um ataque, na última quinta-feira, de apoiadores de Assad contra as forças de segurança na cidade de Jableh, na província de Latakia, região natal da comunidade alauíta, do ramo xiita do Islã, ao qual pertence o clã Assad.

Após a queda de Assad em dezembro de 2024, em uma ofensiva liderada por rebeldes islamistas sunitas do HTS, o ex-ditador fugiu para Moscou com sua família. A principal missão do novo governo sírio é restaurar a segurança no país, após mais de 13 anos de guerra civil.

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, pediu a imediata cessação das mortes de civis, enquanto o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, condenou os “massacres” e pediu que os responsáveis fossem responsabilizados. A Alemanha também pediu às partes envolvidas que pusessem fim à violência, e o Reino Unido instou as autoridades sírias a “garantir a proteção de todos os sírios”.

Neste domingo, o Ministério do Interior sírio anunciou o envio de “reforços adicionais” para “restaurar a calma” em Qadmus, povoado na província de Tartus, onde as forças do governo tentam capturar “os últimos homens leais ao antigo regime”.

A agência de notícias síria, Sana, relatou “confrontos violentos” em Taanita, vilarejo nas montanhas da mesma província, onde “criminosos de guerra afiliados ao regime deposto e grupos de leais a Assad” se refugiaram.

Um comboio de 12 veículos militares entrou em Bisnada, em Latakia, para revistar casas, de acordo com a agência France Presse.

Mais recentes

Checagem de fatos