Liquidação extrajudicial do banco pelo BC mostra rombo bilionário e impacto sobre investidores
Dois dos sete presos pela Polícia Federal na operação Compliance Zero, que apura um esquema de fraudes financeiras envolvendo o Banco Master, foram libertados na noite de quinta-feira (20).
Eles cumpriam prisão temporária, com prazo de três dias, e deixaram a Superintendência da PF em São Paulo após o vencimento do mandado.
Foram soltos André Felipe de Oliveira Seixas Maia, diretor de uma empresa ligada ao esquema, e Henrique Souza Silva Peretto, sócio de empresa investigada. Ambos deixaram o prédio segurando travesseiros e ocultando o rosto.
Os demais presos, cinco executivos que compõem a cúpula do banco, seguem detidos preventivamente, sem data prevista para soltura, devido ao risco de destruição de provas e continuidade da suposta organização criminosa.
Quem permanece preso
Continuam na Superintendência da PF:
Daniel Bueno Vorcaro, dono e presidente do Banco Master;
Augusto Ferreira Lima, ex-CEO e sócio;
Luiz Antônio Bull, diretor de Riscos, Compliance, RH, Operações e Tecnologia;
Alberto Felix de Oliveira Neto, superintendente de Tesouraria;
Ângelo Antônio Ribeiro da Silva, sócio.
A defesa de Vorcaro afirma que ele estava a caminho de Dubai para reunião com compradores. A PF diz que ele planejava voar para Malta, indicando tentativa de fuga.
Para o mercado, a liquidação da instituição um dia após o anúncio de venda foi interpretada como sinal de ruptura interna grave e de possível tentativa de reorganização emergencial para evitar a exposição do esquema.
Nos últimos anos, o Banco Master expandiu muito sua carteira oferecendo CDBs com taxas acima do mercado, estratégia que atraiu milhares de investidores pela garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Mas por trás do crescimento havia sinais de deterioração:
o banco acumulava passivos bilionários,
investia em ativos de baixíssima liquidez, como precatórios difíceis de executar,
e mantinha participações em empresas com dificuldades financeiras.
Segundo a PF, parte da liquidez demonstrada pelo banco era forjada. Entre as descobertas:
• Créditos fictícios de empresa fantasma
O Master adquiriu créditos da empresa Tirreno, que, de acordo com a investigação, não possuíam lastro real.
Não pagou pela compra, mas revendeu esses mesmos créditos ao BRB, que desembolsou R$ 12,2 bilhões sem documentação suficiente.
• Emissão de R$ 50 bilhões em CDBs
Os títulos eram comercializados com rentabilidade acima do mercado, mas sem comprovação de que o banco tinha capacidade para honrá-los.
• Injeção bilionária do BRB
O Banco de Brasília, que tentava comprar o Master, transferiu R$ 16,7 bilhões à instituição entre 2024 e 2025. O MPF aponta participação consciente dos executivos do BRB no esquema.

Apreensões e alvos paralelos
Durante as buscas, a PF encontrou R$ 1,6 milhão em espécie na casa de Augusto Ferreira Lima, ex-CEO da instituição.
A Justiça também determinou o afastamento do presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, e do diretor financeiro, Dario Oswaldo Garcia Júnior, por 60 dias. Costa está nos Estados Unidos e afirmou que a investigação é “positiva e necessária”.
O BRB divulgou nota afirmando que não teve bens bloqueados e que sempre atuou “com transparência e em conformidade com normas”.
Com a liquidação extrajudicial, o Banco Master deixa de operar no sistema financeiro. Um liquidante assume o controle, devendo vender ativos, pagar credores e extinguir a instituição.
Proteção pelo FGC
Estão cobertos até R$ 250 mil:
CDB, RDB
LCI, LCA
Saldos de conta corrente e poupança
O FGC afirma que libera o pagamento em até 48 horas úteis após a solicitação via aplicativo, mas o prazo total, historicamente, varia entre 14 e 40 dias.
Investimentos sem garantia, como debêntures, CRIs, CRAs e fundos, terão de entrar na fila da liquidação.
O impacto do esquema chegou a fundos públicos de previdência.
Segundo o Tribunal de Contas do Rio (TCE-RJ), o Rioprevidência tinha R$ 2,6 bilhões aplicados em fundos ligados ao Master, cerca de 25% de sua carteira.
O TCE apontou “graves irregularidades”, proibiu novas operações e alertou para risco ao pagamento de aposentadorias.
O Rioprevidência afirma que o valor “exposto diretamente” ao Master é de R$ 960 milhões e garante que não há risco aos beneficiários.
