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Aliança entre PP e União Brasil emperra em disputas locais e pode implodir antes de 2026

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A articulação para formar uma federação entre PP e União Brasil, que poderia se tornar a maior força política do Congresso em 2026, enfrenta forte resistência nos estados. Embates locais travam o avanço da aliança, apesar do aceno positivo de parte da cúpula dos dois partidos.

Pelo desenho discutido, cada legenda comandaria a federação em nove estados, enquanto nos demais a direção ficaria a cargo dos diretórios nacionais — uma tentativa de administrar os conflitos com “decisões por consenso”. Na prática, os líderes regionais têm resistido à ideia de abrir mão de espaço e protagonismo.

Bastidores divulgados pela Folha apontam que a presidência da federação seria entregue a Arthur Lira (PP-AL), que articula o projeto com o aval de Ciro Nogueira. A união garantiria mais de R$ 1 bilhão em fundo eleitoral e formaria uma bancada de 108 deputados e 13 senadores. Mas a realidade nos estados mina o entusiasmo da cúpula.

Na Paraíba, o PP quer lançar Lucas Ribeiro, vice-governador e sobrinho de Aguinaldo Ribeiro, enquanto o União Brasil aposta no senador Efraim Filho, que tem ambições majoritárias. “Sou defensor da federação, mas ela precisa respeitar a força de cada partido nos estados”, disse Efraim.

No Acre, o governador Gladson Cameli (PP) quer emplacar a vice Mailza Assis como candidata ao governo. Mas Alan Rick (União), líder nas pesquisas, já sinalizou que pode deixar a legenda se não tiver apoio. No Paraná, Sergio Moro se movimenta para disputar o governo, mas o PP mira o Senado com nomes como Pedro Lupion e Ricardo Barros, ambos aliados de Ratinho Jr.

Situações parecidas se repetem em Bahia, Ceará e Pernambuco, onde os dois partidos apoiam grupos rivais. Na Bahia, ACM Neto (União) tenta manter o controle da federação, mas o PP local flerta com o governador petista Jerônimo Rodrigues. “É bom para a democracia”, disse ACM, sem esconder a tentativa de liderar o bloco. Em 2022, parte do PP rompeu com Neto para se aliar ao PT nos municípios.

No Ceará, o União Brasil é oposição ao governo Elmano de Freitas (PT), mas o PP integra a base do petista. Em Pernambuco, o impasse é entre Eduardo da Fonte (PP), que deve integrar a chapa de Raquel Lyra, e Miguel Coelho (União), ligado ao PSB.

“Se houver federação, temos que nos respeitar e ter sinergia”, disse Miguel. “Não saio do União. Ele não sai do PP. Vai ter que funcionar na base da conversa.”

Nos maiores colégios eleitorais, como São Paulo, Rio e Minas, reina o vácuo de liderança. Em São Paulo, ambos os partidos orbitam o governo Tarcísio, mas buscam protagonismo. O PP filiou Guilherme Derrite, secretário de Segurança, e aposta nele como plano B para o governo estadual se Tarcísio disputar a Presidência.

No Rio, o União Brasil quer lançar Rodrigo Bacellar ao governo com apoio do PL de Cláudio Castro. O PP, por sua vez, se aproxima do prefeito Eduardo Paes (PSD), também de olho no Palácio Guanabara.

Na prática, os discursos pela “governabilidade” e “unidade democrática” escondem uma briga por verbas e espaço. A federação, que teoricamente limitaria a fragmentação partidária, pode virar um barril de pólvora e sabotar a própria eleição de 2026.

“A federação é boa para quem governa”, disse ACM Neto. Mas quem comanda, de fato, continua em disputa.

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