O germe do golpismo está presente nas Forças Armadas, assim como em diferentes instituições civis. Basta notar que, a depender das circunstâncias e dos personagens, todo tipo de abuso é justificável. O legalismo é deixado de lado e o que vale é a lei da selva, a lei do mais forte. A história brasileira está aí a esfregar em nossas caras o quão distantes permanecemos de uma civilização.
Por aqui, parece haver sempre uma justificativa para a violência, institucional ou não. O criminoso é vítima da sociedade, o black bloc está lutando contra o ‘capital’, assim como o invasor de terras. É preciso censurar em nome da democracia e, em nome dela, prende-se e arrebenta-se! Solta-se, também!!! Aplica-se a lei tirada da capa, não importa a Constituição.
É inaceitável, do ponto de vista moral, que um general no topo da hierarquia militar e exercendo um cargo de poder na administração pública sequer cogite um assassinato ou mesmo um golpe. Sorte a nossa que essa turma é minoria na caserna. Mesmo sob pressão das ruas e de parte do oficialato, a cúpula das Forças Armadas não cedeu um milímetro a aventuras institucionais, nem em 2022, nem em 2016 ou 2013, quando pequenos grupos se infiltraram nas passeatas para pedir intervenção militar.
Apesar de acampamentos em frente a vários quartéis pelo país após a polêmica vitória de Lula, em absolutamente nenhum deles registrou-se a adesão de oficias ou suboficiais.
Na própria administração de Jair Bolsonaro, que abrigou mais de 3,5 mil militares em cargos comissionados, tampouco houve acolhida — mesmo cientes de que a derrota nas urnas significaria a perda da posição de poder, de gratificações e outros penduricalhos. Nem mesmo o chefe de Mário Fernandes, o general Luiz Eduardo Ramos, deu ouvidos ao subordinado.
E o então presidente da República? As investigações até aqui sugerem que ele resistiu aos apelos golpistas, inclusive daqueles que pediam incessantemente a aplicação do artigo 142, antes e depois das eleições. Bolsonaro levantou suspeitas sobre a segurança das urnas, cobrou auditagem pública de votos, insuflou a militância contra o STF. Derrotado, guardou silêncio, facilitou a troca antecipada dos comandantes militares e entregou a transição aos subordinados. Depois, deixou o país.
Certamente, ao ouvir sugestões radicais por vários lados, deve ter pensado em “fazer justiça” contra o Judiciário que pesou a balança eleitoral para o seu concorrente, mas até aqui não há nada que indique ter tomado qualquer decisão nesse sentido. Ao contrário, as trocas de mensagens obtidas pela PF mostram a decepção de seus auxiliares com a inação do chefe. Para muitos, foi covarde e omisso, o que não é crime.
Afinal, há uma diferença brutal entre pensar e até planejar um crime e cometê-lo. No arcabouço legal brasileiro, não há punição prevista para atos preparatórios. Também há uma diferença brutal entre aceitar o resultado das urnas e concordar com ele, assim como é possível lidar com a realidade da descondenação de Lula pelo STF, sem aceitar sua inocência.
Nunca, nenhuma caneta por mais suprema que seja, conseguirá apagar a história, mesmo que todos os condenados da Lava Jato sejam descondenados e os bilhões recuperados pelo Ministério Público Federal acabem voltando para as offshores de seus ilegítimos donos. Se é grave pensar em golpe, o que dizer da corrupção que comprou (e compra) mandatos políticos, projetos de lei, resoluções e decretos… e até sentenças? Transfigurar a democracia na base do suborno chama como?
Em democracias frágeis, em republiquetas de bananas, a lei pode ser imposta à força, mas isso não lhe aufere legitimidade. Fazer justiça com as próprias mãos nunca será justiça e menos contribui para pacificar um país. Mesmo assim, Moraes conta com o apoio unânime dos colegas de toga, tem aliados nos demais poderes e até fãs ocasionais nas redes. Azar o nosso.
Assista esse artigo em vídeo:
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Respostas de 13
Cláudio,
Sua coluna se tornou indispensável na nossa leitura diária. Obrigada pela informação precisa e verdadeira. Que Deus guarde você e sua linda família. Ouso dizer que te amamos!!!
Parabéns pelo trabalho! Avante!
Caramba, será que você virou bolsominion?
Felipe Moura Brasil apesar de tentar o tempo todo mostrar o protagonismo sobre seus companheiros de redação fez um comentário mais imparcial.
Parabéns, excelente artigo
Perfeito.
O Brasil precisa ser redescoberto e começar do zero. Talvez assim tenhamos uma segunda chance. Mas sei lá, acho que nem isso resolve mais. Tá na genética. Fadados a ser um fracasso de país. Basta olhar o STF e o judiciário como um todo, o executivo e o legislativo. Triste!
Vamos voltar para 2014, na reeleição de Dilma Rousseff, quando o PSDB perdeu a eleição. Como sempre existiu o “teatro da tesoura”, o PSDB ficou revoltado com o Lula por ele não cumprir o acordo. Assim, começou a promover o justiçamento contra os políticos de esquerda. Sérgio Moro, um falso herói utilizado pelo establishment, foi instrumentalizado para trazer o PSDB de volta ao poder em 2018.
Durante as manifestações de 2016, Geraldo Alckmin foi com seus cúmplices, Alexandre de Moraes e Aécio Neves, acreditando que seria ovacionado. No entanto, os três foram hostilizados por todos os manifestantes. Para mim, tudo isso não passa de um justiçamento contra o povo brasileiro, que acordou e votou em JAIR MESSIAS BOLSONARO.
O establishment não moveu uma palha contra o PSDB, e Alexandre de Moraes utilizou todos os instrumentos empregados por Sérgio Moro para fazer o justiçamento e trazer o PSDB de volta ao poder.
Claudio, acho que aqui as coisas se tornam mais graves por que não se trata apenas de uma tentativa de golpe de Estado; fala-se em assassinato.
Por mais ridículas que sejam as intenções desses Bentos Carneiros, é gravissimo.
Mas, o pior de tudo isso, é que mais uma ação desastrada, idiota, prejudica a direita responsável , equilibrada e democrata que existe no país, composta por dezenas de milhões de cidadãos sérios. Precisamos nos afastar dessas pessoas e atitudes obtusas, elas não nos representam✌.
PORQUE QUANTO O PRESIDENTE BOLSONARO SOFREU A FACADA NÃO ERA O ATAQUE ANTIDEMOCRÁTICO?
E as joias? E a “venda” esquisita da Refinaria Landulfo Alves, e os processos (rachadinhas) dos ladrãozinho? E o roubo da casa que era da Clara Nunes?
Sem esquecer que o Rattão (lula) só voltou porque o Merdanaro anuiu.
Estou descobrindo a história do Brasil e do mundo. Vários livros me marcaram este ano, como Revolução de 30, do General Góes Monteiro; ORVIL; Hitler, de Joachim Fest; Arquipélago Gulag, de Aleksandr Soljenítsin; e Fenômeno Pitești, de Virgil Ierunca. Listei apenas alguns dos 41 livros que já li neste ano.
Por conhecer um pouco mais sobre a história do passado, tenho uma certeza: a história é cíclica. É por isso que acredito com convicção que a Terra é redonda, pois estamos sempre em círculos, voltando ao mesmo ponto.
Tudo o que o ministro Alexandre de Moraes está fazendo hoje guarda semelhanças com as práticas de regimes ditatoriais ou do período militar. Contudo, há uma grande diferença: no regime militar, jamais houve desarmamento da população.
Este final de semana assisti ao filme JK, e o final me marcou muito com a frase de Fernando Brant:
“Os anos passados, a maturidade, e a visão diária da injustiça e do ódio, da opressão, da mentira e do medo, me levam agora, adulto, em nome da verdade e da história, a reafirmar o menino: as lágrimas derramadas em 64 continuam justas.”
Essa frase é extremamente atual e poderia ser adaptada, substituindo “64” pela “ditadura do Judiciário de 2023.”
Parabéns Cláudio Dantas! Análise perfeita.Você é um excelente jornalista.
Belo texto.