Com uma linguagem simples, mas frequentemente incisiva, o papa Francisco marcou seu pontificado por declarações que desafiaram tradições, criticaram estruturas da própria Igreja e ecoaram em debates contemporâneos. Desde sua eleição, em março de 2013, o pontífice argentino usou suas falas para se aproximar dos fiéis e provocar reflexões internas e externas.
Logo após ser eleito, resumiu sua visão pastoral em uma frase que se tornaria símbolo de seu pontificado: “Como gostaria de uma Igreja pobre para os pobres” (16 de março de 2013).
Sua sensibilidade às questões sociais também se expressou em temas ambientais, como no Sínodo sobre a Amazônia, quando declarou: “O grito dos pobres, junto com o da terra, chegou até nós vindo da Amazônia. Depois dessas três semanas, não podemos fingir que não ouvimos.” (27 de outubro de 2019).
Mesmo quando se referia à comunicação, não evitava termos fortes: “Acredito que os meios de comunicação devem ser muito claros, muito transparentes, e, sem intenção de ofender, não cair na doença da coprofilia (…)” (7 de dezembro de 2016).
Sobre a banalização da liturgia, chegou a repreender o uso excessivo de celulares nas missas: “Fico muito triste quando celebro aqui na praça ou na basílica e vejo tantos celulares levantados. (…) A missa não é um espetáculo.” (8 de novembro de 2017).
Conhecido por seus discursos diretos aos membros da Igreja, Francisco listou 15 “doenças” que atingem a cúria romana, como o “Alzheimer espiritual”, o “excesso de planejamento”, o “coração de pedra”, a “cara fúnebre” e a “fofoca”. (22 de dezembro de 2014).
Sua crítica ao esvaziamento cultural da Europa também chamou atenção: “De muitas partes, tem-se uma impressão geral de cansaço e de envelhecimento, de uma Europa envelhecida que já não é fértil nem vivaz.” (25 de novembro de 2014).
Francisco não poupava franqueza nem quando se referia às crises pessoais, como o “quarentenazo”, conhecido na Argentina por ser a crise dos 40 anos: “Temos tentações ruins nesses momentos, tentações que jamais teríamos pensado ter antes.” (17 de fevereiro de 2018).
Entre suas falas mais populares e provocativas está a crítica ao que chamou de mentalidade reprodutiva irresponsável: “Alguns acham, perdoem a expressão, que para ser bom e católico temos que ser como coelhos.” (19 de janeiro de 2015).
Ao comentar sobre liberdade de expressão e limites, usou um exemplo pessoal: “Se alguém fala mal da minha mãe, pode esperar um soco (…) Não se pode zombar da fé.” (15 de janeiro de 2015, após o ataque ao Charlie Hebdo).
Em relação ao aborto, Francisco fez comparações contundentes: “É justo contratar um assassino de aluguel para resolver um problema? (…) Não é justo eliminar uma vida humana, por menor que seja.” (10 de outubro de 2018). Em outra ocasião, reforçou o ponto ao criticar o aborto por malformação fetal: “No século passado, todo o mundo se escandalizou com o que os nazistas faziam para preservar a pureza da raça. Hoje, fazemos o mesmo com luvas brancas.” (16 de junho de 2018).
Até mesmo temas contemporâneos como aplicativos de encontros não escaparam de sua atenção. Quando questionado por uma jovem sobre o Tinder, respondeu com naturalidade: “Os jovens têm essa ânsia de se conhecer, e isso é muito bom.”