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Secretário de Saúde de Maricá recebe bolsa de R$ 120 mil em meio a investigações de desvios

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O Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM) concedeu uma bolsa de R$ 120 mil ao secretário municipal de Saúde, Marcelo Costa Velho Mendes de Azevedo. A publicação consta no Diário Oficial de 11 de abril e ocorre em meio a suspeitas de desvios de recursos e favorecimentos políticos na cidade.

Conhecido como Velho, o secretário já recebe salário bruto de R$ 27 mil como médico da rede municipal. Ainda assim, foi contemplado com a bolsa para um ensaio clínico sobre complicações do diabetes, focado na aplicação de fator de crescimento epidérmico em úlceras de pé diabético.

Velho é um dos alvos da Operação Salus, da Polícia Federal, que apura o desvio de R$ 71 milhões da Saúde de Maricá. A liberação da bolsa aumenta a suspeita de uso político dos recursos do instituto.

O vereador Ricardinho Netuno (PL) denuncia uma “farra das bolsas” no ICTIM. Segundo ele, aliados do ex-presidente do instituto, Celso Pansera — hoje na presidência da Finep — foram beneficiados com bolsas generosas. Um dos nomes citados é Daniel Alvão de Carvalho Junior, ex-assessor de Pansera no Congresso e no Ministério da Ciência e Tecnologia, que recebeu diversas bolsas de R$ 60 mil, inclusive sobre o mesmo tema do estudo de Velho.

Familiares de Pansera também aparecem nas denúncias. A atual esposa, Mônica Levy Andersen, é ligada a um contrato de quase R$ 3 milhões entre o ICTIM, UFRJ e a Fundação Coppetec. Já a ex-esposa, Márcia Cristina Santana de Souza, hoje diretora administrativa do ICTIM, recebeu uma bolsa de doutorado integral vinculada a um convênio de R$ 3,9 milhões firmado na gestão de Pansera.

Segundo apuração do jornalista Luiz Queiroz, em janeiro, Pensera foi homenageado com um jantar na casa do casal Hildegard Angel e Francis Bogossian, em celebração à conclusão de seu mestrado em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ. O evento reuniu figuras da elite científica do Rio, incluindo o prefeito de Maricá e vice-presidente do PT, Washington Quaquá — padrinho político da nomeação de Pansera na Finep.

O encontro, no entanto, levanta suspeitas. A acusação feita por Netuno é de que Pansera teria cursado o mestrado graças ao mesmo convênio de R$ 3,9 milhões firmado entre o ICTIM e a UFRJ em março de 2022, quando presidia o instituto. O objeto do contrato era desenvolver “Ecossistemas Cooperativos e Desenvolvimento Local na cidade de Maricá (RJ)”.

Segundo Netuno, o convênio também financiou o doutorado de Cláudio de Souza Gimenez, então diretor de Inovação do ICTIM. Após a saída de Pansera, ele assumiu a presidência do instituto em 2023. Outro beneficiado seria Márcio Francisco Campos, atual diretor de Tecnologia do ICTIM. Ambos, assim como Márcia Cristina Santana, usaram os recursos dos royalties de petróleo para custear pós-graduações na UFRJ.

A gestão do convênio também incluiu Fernando Otávio de Freitas Peregrino, que assinou o documento como diretor-executivo da Fundação Coppetec/UFRJ. Hoje, Peregrino é chefe de gabinete de Pansera na Finep e também esteve no jantar de janeiro, sendo citado nos agradecimentos de Pansera nas redes sociais.

“Foi um encontro muito especial, ao lado da minha querida esposa Mônica, e de amigos como Washington Quaquá, prefeito de Maricá; Roberto Medronho, Reitor da UFRJ; e do meu orientador, professor doutor Francisco Duarte, da COPPE/UFRJ. Para completar essa noite maravilhosa, também estiveram presentes meu amigo Fernando Peregrino; Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional; Márcio Portes, diretor do CBPF; Eliete Busquelas, presidente da ANM; e o acadêmico Wanderley de Souza, entre outros influentes cientistas brasileiros”, publicou Pansera.

Francisco Duarte, que coordenava o Programa de Engenharia de Produção da UFRJ, foi o orientador de Pansera no mestrado e também participou da concepção do projeto do convênio.

O cronograma prevê mais um repasse em 2025, no valor de R$ 929.974,49, para encerrar os pagamentos do acordo de 48 meses. Os recursos são oriundos dos royalties de petróleo pagos pela Petrobras à cidade.

O vereador Netuno questiona o destino do orçamento de R$ 120 milhões previsto para o ICTIM em 2025. “O ICTIM deveria servir à população de Maricá, mas em vez disso, se autobeneficiam. Descobrimos que funcionários da alta direção, que deveriam criar um programa para beneficiar o povo, se beneficiaram fazendo mestrado e doutorado caríssimos com o dinheiro público”, afirmou.

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