Descontos pesados estão reduzindo quase a zero o benefício de cerca de 630 aposentados do fundo de pensão Eletros, ligado à antiga estatal Eletrobras. Com idade média de 80 anos, esses beneficiários enfrentam contracheques que incluem cobranças de parcelas extraordinárias, suspensas por liminar desde 2020, mas retomadas após a decisão ser cassada em 2024.
O valor acumulado das parcelas atrasadas chega a R$ 170 milhões, sendo descontado conforme a expectativa de vida de cada beneficiário.
A situação financeira do fundo é alarmante. O déficit atual é de R$ 1,04 bilhão, equivalente a 63% do patrimônio do plano, que soma R$ 1,66 bilhão. Em 2024, a rentabilidade foi de apenas 0,2%, bem abaixo da meta atuarial de 10,2%. Segundo Cristina Almeida, da Associação dos Assistidos dos Planos Previdenciários da Eletros (AABD), “a gestão não é eficiente” e ajustes estruturais são urgentes.
Os descontos mensais já representam mais de 40% dos proventos, incluindo contribuições regulares e parcelas extraordinárias. A Associação dos Aposentados Participantes da Eletros (Apel) aguarda decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre o recurso que pode suspender novamente as cobranças. Mais de cem aposentados morreram enquanto a disputa judicial se arrastava.
O problema no fundo remonta a 2005, quando um novo plano de contribuição definida foi criado, permitindo que funcionários migrassem, mas excluindo aposentados. A medida esvaziou o patrimônio do plano de benefício definido, que dependia da Eletrobras para cobrir déficits. O primeiro rombo surgiu em 2008, apenas um ano após um superávit de R$ 302,7 milhões.
A crise no Eletros é um reflexo da má gestão e do desequilíbrio estrutural herdado de decisões questionáveis da antiga administração, agravando a vulnerabilidade de milhares de aposentados e pensionistas.