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Qual classe média, cara pálida?

Dias atrás demonstrei aqui neste blog que o método da PNAD Contínua para medição do desemprego (ou do emprego) no país está ultrapassado e não espelha a realidade de um país de perfil populista onde mais de 54 milhões de pessoas recebem Bolsa Família e dos quais 37 milhões são adultos. O mesmo ocorre agora com os critérios de enquadramento da classe média brasileira. Relatório da consultoria Tendências, cruzando dados da PNAD Contínua com informações da Receita, aponta que as classes A, B e C somaram 50,1% da população com renda superior a 3.400 reais em 2023 e que, nesse conjunto, a classe C atingiu 31%.

Lula saiu nas redes a comemorar os números, assim como sua militância. Mas o que já para comemorar? Primeiro, o IBGE considera classe média quem ganha entre 3.400 e 8.100 reais mensais, praticamente a metade da renda considerada para a classe média pelo índice global Pew, que fica entre 1.200 a 2.400 dólares, ou entre 7.200 a 14.600 reais. Segundo, o mesmo IBGE coloca pobres e miseráveis no mesmo grupo com renda mensal de até 3.400 reais, mais que o dobro do valor do salário mínimo. Terceiro, nas classes D e E, só 43,7 (menos da metade) da renda tem origem no trabalho. A maior parte (56,3%) vem de auxílios (Bolsa Família/BPC, Previdência e outros), cuja conta recai sobre os trabalhadores.

Para se ter uma ideia do abismo, no caso da Classe C (média, em tese), 90,8% da renda tem origem no trabalho; na classe B, essa taxa é de 86,7%. O enorme contingente de não assalariados faz com que a massa de renda média dos trabalhadores caia para 54%, o que apenas corrobora a impressão de que o índice de desempregados divulgado pelo IBGE via PNAD Contínua está longe de representar a realidade do mercado de trabalho, que está muito aquém do desejável para impulsionar a economia do país.

O relatório da Tendências também traz projeções pouco otimistas, que estão sendo desconsideradas pelo governo em suas manifestações públicas. “No longo prazo, a migração das famílias mais pobres para classe média deve ser lenta, acompanhando um fenômeno típico de países com alta desigualdade de renda. O maior entrave ao crescimento da renda dos estratos sociais mais pobres é a educação não revertida em produtividade”, diz a consultoria. Diante desse cenário, a previsão para 2025 é de “desaceleração do consumo das famílias”. “As contribuições positivas dos condicionantes observadas neste ano devem diminuir, em função de aumento dos juros bancários, pressão inflacionária no orçamento familiar, aumento nos preços dos bens e menor volume de crédito.”

Não há o que comemorar e nem maquiar.

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Claudio Dantas

Claudio Dantas

Respostas de 2

  1. Estatística é a matemática guiada pela pela linguagem, resolveram chamar de empregados os recebedores de ajuda temporária, não culpemos os números e sim como são arrumados.

  2. O Lula avisou já no início desse desgoverno que os livros de economia deveriam ser rasgados e queimados porque estão desatualizados. Pelo visto teremos que queimar também os livros de Geografia, História, Administração além, claro do Código de Direito Penal e a Carta magna.

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