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PF indicia Bruno Henrique por fraude em jogo do Brasileirão

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A Polícia Federal indiciou o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, por estelionato e fraude em competição esportiva, após investigações apontarem que ele forçou um cartão amarelo em partida contra o Santos, pelo Brasileirão de 2023, com o objetivo de beneficiar apostadores — incluindo membros da própria família.

As investigações começaram após alerta da International Betting Integrity Association (IBIA), enviado à CBF, que apontava movimentações suspeitas de apostas na plataforma Kaizen Gaming, em especial em Belo Horizonte (MG), cidade natal do jogador. A análise resultou em um relatório entregue à PF, que revelou a conexão direta entre Bruno Henrique e os apostadores.

No celular do irmão do jogador, Wander Nunes Pinto Júnior, os agentes identificaram mensagens trocadas com o atacante dias antes do jogo contra o Santos. Em tom de deboche, Wander questiona: “Quando [o] pessoal mandar tomar o 3 liga nós hein kkkk”. Bruno Henrique responde: “Contra o Santos”. Wander então dispara: “Boua já vou guardar o dinheiro investimento com sucesso”.

A PF concluiu que o jogador antecipou a informação sobre o cartão, permitindo que familiares apostassem em sua advertência. Wander, a esposa dele e uma prima de Bruno Henrique lucraram mais de R$ 3,7 mil com apostas no jogo.

Em outras mensagens, o atacante chega a instruir o irmão a não apostar diretamente: “Vc não pode ser. Temos nomes igual”. E avisa: “Vai dar ruim. Negócio de aposta aqui”.

Outro trecho chama a atenção. Wander pergunta: “Se eu ganhar mil reais tá bom se for coisa certa”, e o atacante retruca: “Tem que ter 10k todo final de semana”, sugerindo a entrada num esquema maior, com apostas recorrentes.

A PF dividiu os envolvidos em dois núcleos. O primeiro, familiar, inclui Bruno Henrique, o irmão Wander, a cunhada Ludymilla e a prima Poliana. No segundo, estão outros seis apostadores, ainda não identificados publicamente.

As mensagens revelam que o jogador operava com cautela. Em uma delas, quando o irmão sugere tomar um amarelo no jogo contra o Corinthians, Bruno responde: “Dá não, tenho 1 já”. Ainda assim, foi advertido na partida, reforçando a suspeita de manipulação.

Outro diálogo sugere atuação em apostas de corridas de cavalo. Após o irmão perguntar se “deu certo”, Bruno Henrique responde: “Deu”, “Lajinha”, “10”. A PF acredita que “Lajinha” seja um operador ou laranja no esquema.

Às vésperas do jogo contra o Santos, Bruno Henrique ligou diretamente para Wander, supostamente para confirmar a entrada no esquema e o cartão que viria na partida — algo que de fato ocorreu.

A investigação teve início formal em julho de 2024 e pode se desdobrar em novos inquéritos. Apesar de nunca ter se envolvido em escândalos anteriores, Bruno Henrique virou o símbolo de uma engrenagem silenciosa de apostas suspeitas que, agora, compromete não apenas sua reputação, mas também escancara a fragilidade das competições esportivas brasileiras diante da falta de fiscalização — e do silêncio conivente das entidades.

“Se confirmar tudo que está no inquérito, não é só um esquema familiar — é profissionalismo no crime”, disse um delegado envolvido no caso.

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