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Perdoe-nos, meu Pai, por não merecermos até hoje o seu perdão!

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Está em Lucas 23:34 uma das passagens mais populares do evangelho cristão e que reproduz aquelas que teriam sido as últimas palavras de Jesus ao ser crucificado: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” A interpretação também mais famosa dessa frase é sobre o perdão aos que ignoram seus atos. Os soldados romanos apenas cumpriam ordens.

Significa que devemos, nós, pobres mortais, perdoar aqueles que mataram o filho de Deus? Ou aqueles que violam nossas filhas, matam nossos irmãos, ceifam o futuro de gerações? Devemos perdoar os imorais e corruptos Judas e Pôncio Pilatos? A Bíblia é um incomparável compêndio de regras e lições, é o Livro da Justiça, a Constituição do Cristianismo. Ele institui a moral que forja a civilização ocidental, a nossa civilização.

É tão poderosa que impérios ruíram e se elevaram em torno da prerrogativa de interpretá-la e, claro, do poder de aplicar seus ensinamentos.

Nesta Sexta-Feira da Paixão, dia da crucificação e morte de Cristo, a maioria de nós segue vivendo no erro daqueles soldados romanos e do povo da Judeia, que condenou o inocente e absolveu o ladrão.

Jesus se deixou crucificar, não para que pudéssemos exercer o perdão, mas para que buscássemos o conhecimento e o verdadeiro sentido da Justiça, para que fôssemos capazes de separar o joio do trigo, impedir a corrupção moral da sociedade, a violação de nossas filhas, a morte de nossos irmãos, a ceifa das futuras gerações. Para não repetirmos e nem deixássemos repetir a traição e o arbítrio.

A mensagem que devemos levar adiante é a de repúdio à imolação de inocentes no altar da arrogância e do poder sem limites. Fincada no alto da montanha, a Cruz é como um farol a nos advertir de que todos podem estar errados enquanto apenas um está certo.

Nesta Sexta-Feira Santa, nossa civilização é tão ignorante quanto aquela de 2 mil anos atrás. Talvez mais, considerando que somos herdeiros de toda a história civilizatória depois de Cristo e, claro, de seus ensinamentos. Herdeiros da Idade Média, do Iluminismo e das revoluções industrial, científica e tecnológica.

Nesse breve período, desde a passagem de Cristo, fomos capazes de dominar os elementos fundamentais da vida, decodificamos o DNA, criamos uma rede de comunicação global, fundimos os núcleos dos átomos, lançamos uma sonda ao espaço infinito. Somos capazes de dar ré em foguetes, de clonar a vida e até de ressuscitar espécies extintas.

Mas ainda assim não sabemos até hoje separar o joio do trigo, somos incapazes de discernir entre o criminoso e o inocente, não descobrimos ainda a essência da Justiça. Repetimos Judas, nos vendendo por moedas; entregamos o manso a novos Pilatos, e nos solidarizamos com os Barrabás modernos; dobramos nossos joelhos a novos César.

Nossos ‘soldados’ seguem no erro, cumprindo silenciosamente tantas ordens injustas de perseguição, prisão e açoite. Parecem calçar com orgulho as botas das polícias políticas, portam com desvelo o chicote dos capitães do mato. Lançam às feras num Coliseu midiático pipoqueiros, cabeleireiras, vendedores de picolé.

Será que não enxergam as acusações forjadas, os crimes inventados, as narrativas construídas apenas para blindar os poderosos de plantão? Jesus, vejam bem, foi condenado por blasfêmia e sedição. Na época, declarar-se Filho de Deus e rei dos judeus era uma ofensa aos costumes judaicos e românicos. Incitar o povo a não pagar impostos a César era uma ameaça à ordem!

Nada disso mudou. Só mudaram os nomes para discurso de ódio, disseminação de fake news e tentativa de golpe. Perdoe-nos, meu Pai, por sermos tão covardes e egoístas, por não merecermos até hoje o seu perdão.

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