Engana-se quem acha que o mundo agora, ao se voltar para as recentes declarações de Mark Zuckerberg sobre as regras da Meta, esqueceu de Elon Musk e seu X. Musk vem cada vez mais afirmando seu posicionamento político e defendendo figuras públicas que pensam como ele. Já declarou algumas vezes que se George Soros pode influenciar por tantos anos pautas progressistas porque ele não poderia? Em um cenário geopolítico que aplica seu próprio discurso e narrativa pública à realidade isso seria democrático e desejável. Mas Musk é libertário, defende um estado menor e menos impostos, defende cegamente a sua liberdade de expressão e não foge de pautas polêmicas, principalmente as identitárias. Ou seja, o oposto do que defende a maior parte dos jornalistas e reguladores.
Por isso, Musk é acusado de influenciar negativamente o processo democrático, com a crítica sempre acompanhada por adjetivos já conhecidos por nós como “totalitário”, “radical” e outros piores. Mas não é disso que se trata o processo democrático? Exatamente de dar voz a grupos minoritários? A mais nova suposta escalada autoritária de Musk foi o fato de apoiar a candidata alemã Alice Weidel, líder do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), considerado de extrema-direita. Alice é casada e tem dois filhos com uma mulher do Sri Lanka, tem uma fala moderada e se auto denomina libertária-conservadora e não extrema direita.
AfD é o Partido mais polêmico da Alemanha, pela forma de governo do país os Partidos precisam formar uma coalização para governar e mesmo tendo cada vez mais sucesso nas urnas o AfD vem tendo dificuldade em participar de coalizões. Hoje o AfD tem entre 18% e 20% das intenções de voto nas pesquisas, com chances reais de formar a segunda maior bancada no Parlamento alemão, o Bundestag. Musk gravou ontem ao vivo com Alice Weidel em sua plataforma X. Na transmissão, ambos concordaram que a Alemanha vem sofrendo com uma política ambiental desastrosa, burocracia excessiva e uma imigração descontrola. Weidel alegou que foi a primeira vez em 10 anos que pode ter uma transmissão sem interrupções de uma mídia totalmente enviesada em relação a ela.
O simples anuncio da live deixou líderes e legisladores da União Europeia de cabelo em pé. De repente, uma simples live foi considerada uma interferência nas eleições alemãs marcadas para 23 de fevereiro. Musk de fato tem 211 milhões de seguidores em sua rede. Uma potência! Mas, vários artistas de Holywood também possuem redes significativas e vêm há anos apoiando todos os tipos de lideres e causas de esquerda ao redor do mundo. Qual o critério usado para decidir onde é interferência nas eleições e onde é pela democracia? O presidente francês, Emmanuel Macron, foi um dos primeiros a criticar o bilionário, afirmando que, há uma década, seria inimaginável que o proprietário de uma das maiores redes sociais apoiasse um movimento reacionário internacional e interviesse diretamente em eleições, incluindo na Alemanha.
Não existe nenhum indício de que Musk use os algoritmos de sua rede para aumentar o engajamento de seus posts. Ou seja, qualquer aumento de popularidade que Musk possa estar proporcionado a Weidel é simplesmente pela popularidade de suas ideias e de seus valores. Se ele funciona como “selo de qualidade” significa que o eleitor quer um candidato com as exatas mesmas ideias. Weidel as tem. De novo, não é isso a democracia? Parece que não e cresce cada vez mais a pressão para que a União Europeia use suas armas legais contra o Musk. A Comissão Europeia, o órgão responsável por aplicar o Ato de Serviços Digitais (DSA) da UE, está avaliando se a transmissão viola as regulamentações que visam garantir a equidade nos processos eleitorais. Está agendado para o dia 24 de janeiro uma reunião para tratar do assunto.
Mas, toda essa confusão tem agora um complicador a mais. Musk está para assumir como chefe do Departamento de Eficiência Governamental na administração Trump ou seja, a questão se tornou em um desafio diplomático entre a UE e os Estados Unidos. Cenas fortes nos próximos capítulos.