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BBC reconhece erro de publicar filme narrado por filho de membro do Hamas

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A BBC, empresa de comunicação britânica sustentada em parte por impostos, emitiu na quinta-feira (27) um pedido de desculpas por ter publicado o documentário “Gaza: como sobreviver numa zona de guerra”.

O filme foi ao ar nos canais da emissora dez dias antes, mas foi removido do aplicativo da BBC, pendendo sindicância, no dia 21, depois que um investigador independente mostrou que o narrador de 13 anos — um dos quatro jovens palestinos tratados como protagonistas — é filho de um vice-ministro do regime do grupo terrorista Hamas.

A diretoria da BBC reconheceu, em comunicado, que havia “sérios defeitos” na produção do programa. “A BBC News se responsabiliza completamente por isso e pelo impacto que teve na reputação da corporação. Pedimos desculpas”.

A empresa disse que a intenção do documentário era alinhada com seus propósitos de “contar a história do que está acontecendo ao redor do mundo, mesmo nos lugares mais difíceis e perigosos”, mas “os processos e execução desse programa ficaram aquém das nossas expectativas”.

A BBC tem responsabilidade editorial pelo filme, mas mencionou ter contratado a produtora independente Hoyo Films para as filmagens.

“Uma das principais questões está em torno das conexões de família do menino que é o narrador do filme”, diz a nota. Durante o processo de produção, a BBC perguntou por escrito múltiplas vezes à produtora independente a respeito de conexões em potencial que o menino e sua família poderiam ter com o Hamas.

Só depois de o documentário ir ao ar, a Hoyo Films informou à BBC que sabia que o pai do menino era um vice-ministro da Agricultura no governo do Hamas. A produtora também se viu obrigada a reconhecer que falhou em contar este fato à BBC. “Foi, portanto, uma falha da própria BBC que não tenhamos descoberto esse fato e que o documentário tenha sido transmitido”, continua a emissora.

O Hamas recebeu dinheiro da BBC? É possível que sim, ao menos de forma indireta. A produtora passou o dinheiro dos britânicos à mãe do menino através da conta bancária de sua irmã, como pagamento pela narração. “A BBC está buscando garantia adicional [de que o Hamas não ganhou seu dinheiro] do orçamento do programa e fará uma auditoria completa dos gastos”.

O diretor-geral da BBC, Tim Davie, pediu prioridade para reclamações dos telespectadores a respeito do documentário enviados a uma ouvidoria independente da BBC News. O ouvidor-chefe, Peter Johnston, analisará as queixas e determinará se o filme violou as diretrizes editoriais e se cabem punições aos produtores internos envolvidos. “Isso incluirá problemas a respeito do uso de linguagem e da tradução” — o documentário traduziu “yehud” (judeu em árabe) para “israelense”, numa provável tentativa de mascarar o antissemitismo dos entrevistados.

A mesa diretora emitiu uma declaração oficial em que diz que os erros do documentário “são importantes e danosos à BBC”. O documentário permanecerá fora do ar até que a sindicância interna seja concluída.

David Collier, o jornalista investigativo independente que revelou os problemas do documentário, comemorou o comunicado no X. “Aquelas 500 personalidades da mídia que queriam manter o filme no ar com certeza estão com cara de idiotas agora”, disse ele.

Collier se refere a uma carta aberta contra a retirada do documentário do aplicativo da BBC, que a própria emissora noticiou. O grupo de signatários chamou a si mesmo de “Artistas britânicos pela Palestina” e alegou na carta que havia uma campanha “racista” e “desumanizante” contra o filme.

Collier considerou que a cobertura da carta pela BBC News foi uma afronta direta aos que denunciaram a natureza propagandística do programa a favor do Hamas. “Não caiam nessa de pensar que isso diz respeito a apenas um documentário. Ele é produto de um problema sistêmico dentro da BBC News”, disse o jornalista. “Eles têm produzido propaganda para o Hamas há anos. A única diferença é que, desta vez, nós provamos”.

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