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Ao reavaliar origem da COVID-19, CIA admite encobrimento ilegal

A agência de inteligência americana conduziu uma análise que apontava para um vazamento de laboratório, mas não a divulgou, contrariando uma lei específica

Por Alex Gutentag e Michael Shellenberger

Por anos, cientistas, autoridades governamentais e jornalistas chamaram a ideia de que a COVID-19 vazou de um laboratório em Wuhan, na China, de “teoria da conspiração”. Alegaram que a hipótese do vazamento laboratorial era “xenofóbica”, “racista”, “destrutiva”, “preconceituosa” e “totalmente desacreditada”. Quando o senador do Arkansas Tom Cotton declarou em janeiro de 2020 que “ainda não sabemos de onde o coronavírus se originou”, a imprensa rapidamente classificou suas falas como “fringe” (marginais). Cotton estava “brincando com fogo”, afirmou a CNN. Ele estava agindo “como os propagandistas soviéticos que tentaram convencer o mundo de que a CIA inventou a AIDS”, tuitou Anne Applebaum, redatora da revista Atlantic.

Agora, a Agência Central de Inteligência (CIA) concluiu que a Covid-19 muito provavelmente surgiu de um vazamento laboratorial em Wuhan, segundo declarou um porta-voz da agência no sábado (25).

Embora muitos americanos já acreditassem que o vírus da covid tenha escapado de um laboratório, a nova avaliação da CIA é importante porque confirma que a agência ocultou ilegalmente informações cruciais do público. Essa admissão deve impulsionar exigências por maior transparência governamental em uma série de outras questões, incluindo o escândalo “Russiagate” (acusações sem substância de interferência russa na campanha e governo Trump nas quais os progressistas insistiram por dois anos), o laptop de Hunter Biden e os arquivos sobre as mortes de John F. Kennedy, Robert F. Kennedy e Jeffrey Epstein.

A avaliação da CIA foi baseada na revisão de informações existentes por parte de analistas, e não em novos dados, informaram fontes à NBC News e ao Wall Street Journal.

O ex-diretor William Burns instruiu a agência a tomar uma posição, relatou o Wall Street Journal, e a análise foi publicada internamente antes de Trump assumir o cargo. Ao manter essa conclusão em sigilo, a CIA e o governo Biden violaram a Lei de Origem da COVID-19 de 2023, que exigia que fossem tornadas públicas todas as informações relacionadas a possíveis vínculos entre o Instituto de Virologia de Wuhan (IVW) e as origens da covid.

O novo parecer da CIA reforça ainda mais as reportagens sobre o encobrimento das origens da covid. Enquanto a maioria dos veículos de notícias ignorava ou negava as evidências de um vazamento laboratorial, os veículos Public (de Michael Shellenberger) e Racket (de Matt Taibbi) foram os primeiros a relatar que, de acordo com fontes do governo dos EUA, os primeiros pacientes com covid trabalhavam no IVW e conduziam experimentos de ganho de função com coronavírus semelhantes ao da SARS (gripe asiática).

Uma investigação por meses conduzida pelo Public e pelo Racket no ano passado revelou que o dr. Anthony Fauci, então diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID), visitou a sede da CIA para influenciar sua avaliação das origens da covid. Além disso, Public e Racket obtiveram centenas de mensagens do aplicativo Slack e e-mails dos autores do influente artigo Proximal Origin of SARS-CoV-2 (“A Origem Proximal de SARS-CoV02”, Nature Medicine, 2020). Esses autores, que descartaram a teoria do vazamento laboratorial em seu artigo, inicialmente acreditavam que o vírus havia escapado do IVW. Segundo as reportagens, eles abandonaram a teoria sob pressão de “superiores”.

Essa controvérsia está longe de terminar. Fauci afirmou que, quando ouviu falar de um novo caso de pneumonia na China, pensou imediatamente em um mercado de animais. No entanto, seus registros de e-mail sugerem o oposto. No final de janeiro de 2020, ele e outros cientistas se apressaram em abordar o que acreditavam ser uma provável origem laboratorial.

De acordo com um denunciante, Fauci influenciou a CIA a alterar suas conclusões. Seis dos sete analistas da CIA haviam determinado que um vazamento laboratorial era o mais provável. Mas, após a intervenção de altos funcionários da agência, a CIA mudou sua avaliação da origem para “desconhecida”. Depois disso, o denunciante afirmou que a agência concedeu aos analistas “Prêmios de Desempenho Excepcional”, acompanhados de bônus em dinheiro.

O denunciante da CIA alega que Fauci promoveu o controverso artigo Origem Proximal, publicação que ele havia “solicitado” e aprovado, dentro da CIA, bem como em reuniões no Departamento de Estado e na Casa Branca. Isso foi especialmente preocupante devido aos conflitos de interesse de Fauci. Ele sabia sobre os vínculos entre os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) e o IVW desde 27 de janeiro de 2020 e tinha conhecimento de que o NIAID havia financiado pesquisas no laboratório de Wuhan por meio da organização sem fins lucrativos EcoHealth Alliance.

Fauci provavelmente não foi o único fator por trás do encobrimento da CIA. Fontes disseram ao Public e ao Racket que a CIA pode ter se sentido “dividida” em sua avaliação das origens da covid porque não queria comprometer investigações anteriores sobre o laboratório de Wuhan. Isso pode explicar por que o FBI e o Departamento de Energia estavam dispostos a concluir publicamente que um vazamento laboratorial era provável, enquanto a CIA manipulava, negava e ocultava sua própria avaliação.

O encobrimento ilegal da agência levanta questões sobre o papel da comunidade de inteligência em pesquisas de alto risco. Em 2004, o presidente George W. Bush assinou uma diretiva confidencial delineando planos de defesa contra ataques biológicos. O resumo não confidencial, divulgado pelo Washington Post na época, afirmava: “A comunidade de inteligência dos EUA está sob ordens de realizar estudos examinando os tipos de micróbios geneticamente modificados que terroristas poderiam estar desenvolvendo para montar um ataque.”

Esses planos consolidaram a relação entre biodefesa, armas biológicas e pesquisa médica. O poder de Fauci residia, em parte, no fato de que, sob sua supervisão, o NIAID recebeu “responsabilidade principal” dentro do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) para “pesquisas civis de biodefesa”. Em 2002, Fauci afirmou que a meta de 20 anos do NIAID era executar um projetobug to drug” (de patógeno a medicamento) em 24 horas, trabalhando para identificar características geneticamente modificadas com antecedência. Ele passaria as duas décadas seguintes lutando contra a regulamentação de pesquisas de ganho de função, junto com o chefe dos NIH, Francis Collins. Juntos, eles escreveram um artigo de opinião de título “Um risco viral que vale a pena correr”, em 2011, argumentando que tais pesquisas eram necessárias para identificar ameaças e fabricar vacinas.

O novo parecer da CIA é um bom primeiro passo na direção correta. Mas o público tem o direito de saber mais sobre a relação entre a comunidade de inteligência, a pesquisa de biodefesa, os esforços de vigilância de doenças e o desenvolvimento de vacinas. Poucos sabem que a Convenção sobre Armas Biológicas da ONU contém uma brecha em seu primeiro artigo. Países podem desenvolver e armazenar patógenos se tiverem uma “justificação para fins profiláticos, de proteção ou outros propósitos pacíficos,” o que significa que nações podem trabalhar para tornar os vírus mais letais ou transmissíveis desde que o façam sob o pretexto de programas de desenvolvimento de vacinas ou contramedidas médicas.

A CIA e a comunidade de inteligência dos EUA, de forma mais ampla, devem tornar públicos todos os materiais relacionados ao Instituto de Virologia de Wuhan e às origens da covid, conforme exigido por lei. Isso deve incluir qualquer informação sobre experimentos de ganho de função, pacientes zero, pesquisas lideradas por militares no IVW e envolvimento de pesquisadores e agências sediados nos EUA.

A participação em um vasto encobrimento por parte da CIA, da mídia e do establishment científico criou uma enorme crise de legitimidade. Muitos cidadãos comuns agora perguntam: como podemos confiar no governo e nas instituições da sociedade civil que participaram de esforços deliberados para enganar e manipular a opinião pública? Quase todas as fontes anteriormente consideradas autoridade perderam credibilidade e traíram os interesses do público.

Esse colapso de confiança levou diretamente à reeleição de Donald Trump e remodelou completamente o cenário da mídia. O complexo formado por jornalistas, acadêmicos, funcionários do governo, agências de inteligência e ONGs, que antes monopolizava a “verdade”, autodestruiu-se por meio de suas mentiras, arrogância e desprezo pelas pessoas comuns. Como resultado dessa autodestruição das elites, continuaremos a ver maior diversidade de pensamento e um discurso mais aberto.

Junto com esse alargamento da janela de Overton vem a possibilidade de que falsidades ou crenças estranhas circulem mais facilmente online e se tornem mais difundidas.

Mas o fiasco sobre as origens da covid é um lembrete de que o controle rígido sobre as informações que o Complexo Industrial da Censura e seus aliados exerciam representava uma ameaça existencial à civilização. Somente por meio do descrédito da grande mídia poderíamos restaurar o senso comum e encerrar a guerra das elites contra a realidade. Com o tempo, novos grupos de mídia, como aqueles que acertaram essas questões desde o início, substituirão seus moribundos concorrentes da mídia tradicional por meio da honestidade, humildade e transparência.

©2025 Public. Publicado com permissão. Original em inglês.

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