O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), destinou R$ 15 milhões em emendas parlamentares a um programa realizado por uma ONG ligada a um de seus principais assessores.
A verba foi direcionada ao programa Mais Visão, criado por Alcolumbre em 2019 e gerido pelo Governo do Amapá. O projeto foi amplamente explorado em sua campanha eleitoral de 2022 para o Senado.
A entidade escolhida pelo governo estadual para tocar o programa foi o Centro de Promoção Humana Frei Daniel de Samarate (Capuchinhos), coordenado há pelo menos oito anos por Maria Ivanete Campos Mendes. Ela é mãe de Pedro Jorge Delgado, que, por sua vez, é reconhecido como filho por Jardel Adailton Souza Nunes, assessor parlamentar de Alcolumbre desde 2019 e chefe de gabinete do senador no Amapá.
O assessor, que recebe R$ 29,4 mil mensais do Senado, não se manifestou sobre o caso. Em suas redes sociais, no entanto, ele já fez publicações se referindo a Pedro Jorge como filho. Em uma postagem de setembro de 2024, escreveu:
“Hoje este jovem bonito igual o pai está dando mais uma volta em torno do sol. Papai do céu continue lhe abençoando meu filho e lhe mantendo firme nos seus propósitos. Papai lhe ama e lhe deseja muita saúde, paz e felicidade.”
O programa Mais Visão, que oferece tratamento oftalmológico à população, foi suspenso pelo Ministério Público do Amapá em 2023, após um mutirão de cirurgias resultar em complicações para mais de cem pacientes, alguns deles perdendo a visão.
A ONG Capuchinhos, responsável pelo programa, alterou seu cadastro de atividades em agosto de 2023. Até então, era classificada como “organização religiosa”. Após quatro anos atuando no Mais Visão, mudou sua categoria para “atividade médica ambulatorial com recursos para a realização de produtos cirúrgicos”.
Em outubro de 2024, o MPF abriu um inquérito civil para investigar irregularidades na contratação da Capuchinhos e a possível subcontratação de empresas privadas para a execução do Mais Visão.
Defesa de Alcolumbre
À Folha, o senador afirmou que recebeu “com surpresa” os questionamentos sobre seu assessor e negou qualquer conflito de interesse: “Lamento a tentativa de envolver meu nome em fatos e situações de ordem particular de terceiros, com as quais obviamente não tenho nenhum envolvimento”.
Ele também declarou que “se orgulha de ter garantido recursos” para o programa, que segundo ele já beneficiou milhares de amapaenses.