Claudio Dantas
9.8 C
Brasília

A tecnocracia que serve ao poder e o dilema de Weverton

Publicado em:

O senador Weverton Rocha (PDT) está em maus lençóis, pois a Polícia Federal descobriu que o parlamentar esteve ao menos três vezes com Antonio Carlos Camilo Antunes, o ‘Careca do INSS’. Descobriu também que o lobista lhe foi apresentado por André Fidelis, ex-diretor de Benefícios do INSS cuja indicação foi apadrinhada pelo mesmo Weverton; assim a do atual secretário-executivo da Previdência, Adroaldo da Cunha, também flagrado com Antunes.

Para piorar, o Careca do INSS recebeu cerca de R$ 120 mil do escritório de Willer Tomaz, advogado do senador maranhense, além de seu compadre e sócio. “Fiz o apoiamento do André Fidélis por ser um funcionário de carreira, que chegou a mim com um ótimo currículo dentro da Previdência”, diz. Pode ser que Weverton seja inocente, como ele afirma, mas não será fácil explicar relações tão próximas com gente tão enrolada.

Talvez, o senador possa terceirizar a culpa e contar à Polícia Federal quem lhe recomendou o servidor, cuja carreira meteórica no INSS coincide com seus vínculos políticos. André Fidelis, que embolsou mais de R$ 5 milhões em propina paga pelo Careca do INSS via o escritório de seu filho Eric, entrou no INSS em 2003 e serviu aos petistas Luiz Marinho, José Pimentel, Carlos Gabas e Valdir Simão. Chegou a Superintendente no Nordeste apenas cinco anos depois.

Estreitou laços com a Cobap (Confederação Brasileira de Aposentados, Pensionistas e Idosos), de Warley Martins Gonçalles, próximo dos parlamentares também petistas Paulo Paim e Vicentinho Alves. Fidelis integra, portanto, o mesmo grupo de tecnocratas que cresceu à sombra do PT e dominou a Previdência mesmo depois do PT, garantindo postos-chaves sob Michel Temer e Jair Bolsonaro.

Integram esse grupo Alessandro Stefanutto, o ex-diretor do INSS afastado, que controlou a Procuradoria Geral do órgão de 2011 a 2017; assim como seu sucessor no cargo, Virgílio de Oliveira Filho, também ex-consultor jurídico e integrantes da Câmara de Recursos Previdenciários. Segundo a PF, Virgílio recebeu R$ 11,9 milhões do esquema de descontos ilegais, sendo a maior parte do grupo de entidades e empresas de fachada do mesmo Careca do INSS. Há outros.

Gente técnica é frequentemente cooptada pelo poder político, se corrompe em troca de bons cargos com gordas gratificações. Com o tempo, essa turma domina a máquina a tal ponto que inverte o jogo e passa a submeter também o poder político, que não vive sem uma comissão. Vimos o ápice dessa relação espúria na Petrobras, com diretores e gerentes sujando as mãos ao lado de lideranças do PT, do MDB e do PP. Todos de carreira e corruptos.

A máquina pública é cheia dessa gente, em diferentes carreiras de Estado. Alguns se tornam tão poderosos, seja pela força do dinheiro, pelo conhecimento técnico ou pela ideologia, que submetem o poder político. Quando não há acordo, sabotam a gestão. É o deep state.

Escreva seu e-mail para receber bastidores e notícias exclusivas

Não fazemos spam! Leia nossa política de privacidade para mais informações.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Mais recentes

Checagem de fatos