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A semana na ciência: sono, café e baratas ciborgues

Bem-vindo à primeira edição de A Semana na Ciência, em que usarei esta coluna para um giro resumido do que aconteceu no mundo da investigação empírica. Minha lista não é necessariamente das notícias científicas mais impactantes, mas uma seleção pessoal.

O sono é o enxágue do cérebro

Até poucos anos atrás, a função exata do sono era um mistério para biólogos. Sabíamos que tem algo a ver com consolidar as memórias do dia, descartando as irrelevantes e mantendo as relevantes, assim marcadas pela impressão emocional que tiveram. Até que surgiu uma hipótese talvez mais mundana, mas muito promissora: dormir serve para limpar o cérebro do lixo gerado pela atividade dos neurônios.

A limpeza é feita por uma espécie de “ciclo de enxágue” do sistema nervoso central, tendo o líquor, ou líquido cefalorraquidiano, um papel central. Na quarta-feira (8), a revista Cell publicou um mecanismo de funcionamento desse enxágue: contrações regulares de vasos sanguíneos no cérebro. Foi observado em camundongos.

A revista Science entrevistou a neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel a respeito: “Isso é ciência de excelência. Eles juntaram as peças e as evidências contam uma história bem convincente”, disse ela.

Normalmente líquidos incolores semelhantes ao líquor circulam no corpo por vasos linfáticos, mas esses vasos não estão presentes no cérebro. Em 2012, neurocientistas identificaram um sistema de drenagem alternativo em que o líquido passa pelo cérebro em passagens que acompanham os vasos sanguíneos. As passagens foram batizadas de “sistema glinfático”, uma junção de “glia” (literalmente “cola”, é um termo usado para as células acessórias aos neurônios) e “linfático”.

As descobertas já estão apontando para aplicações: os cientistas já sabem que a pílula do sono Zolpidem inibe a atividade do sistema glinfático. O enxágue ineficiente do cérebro também está ligado ao Alzheimer e outras formas de demência.

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Enxames de baratas ciborgues!

Cientistas de Singapura e do Japão anunciaram na revista Nature Communications que desenvolveram um novo algoritmo para ajudar na navegação de enxames de “insetos ciborgues”, que são insetos de verdade com implantes eletrônicos em suas costas que controlam seu comportamento. O professor Hirotaka Sato, da Universidade Tecnológica Nanyang (Singapura), demonstrou o primeiro inseto ciborgue responsivo a controle remoto em 2008. O enxame de Sato e colegas por enquanto tem 20 baratas. Uma serve como “líder”, guiando as outras (por algoritmo, não por instinto). A inovação permite que as baratas-robocop ajudem umas às outras se encontrarem obstáculos pelo caminho ou se ficarem presas em posição invertida. Os cientistas querem usá-las para encontrar pessoas mais rápido em desastres, e vendem a ideia dizendo que as baratas são mais baratas (!) que robôs inteiros. Então, se você ficar preso após um terremoto, poderá receber uma cyber-barata com um sorriso.

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Pereba maldita: herpes está por trás do Alzheimer?

Uma das melhores notícias que já cobri nos últimos anos foi quando a esclerose múltipla foi associada ao vírus Epstein-Barr. Não deve ser a causa única, mas abriu um caminho novo para uma cura em potencial.

De vez em quando aparecem indícios de que o Alzheimer, além de ser aparentemente causado pelo acúmulo de placas da proteína beta-amiloide no cérebro, também tem algo a ver com vírus. Um estudo da Universidade Hebraica de Jerusalém publicado na revista Cell Reports encontrou 19 proteínas relacionados ao vírus do herpes simples 1 (VHS-1) nos cérebros de pessoas que sofrem de Alzheimer, a doença neurodegenerativa caracterizada por perda da memória.

As proteínas virais foram associadas a todos os estágios da doença, mas uma em particular se fez cada vez mais presente com o avanço do quadro. Não parece ter a ver com as placas de beta-amiloide, mas com outra proteína humana que também está envolvida na doença: a proteína tau. Esta poderia ser a via pela qual o vírus do herpes influencia no risco de Alzheimer.

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Pesquisa soviética em economia foi um desastre, diz Sherlock Holmes

OK, não foi Sherlock Holmes. Ivan Boldyrev, um historiador econômico da Universidade Radboud (Países Baixos), investigou os fatores que limitaram as pesquisas dos economistas da União Soviética, o bloco comunista que matou dezenas de milhões de pessoas entre 1922 e 1991. Houve uma matematização da economia nos anos 1930, equanto Stálin cometia o Holodomor (genócido de ucranianos por fome planejada), transformando-a em uma área mais séria no Ocidente. O problema nos soviéticos não era falta de matemáticos, mas — que surpresa! — a ideologia. “O governo soviético valorizava a ideologia acima do rigor acadêmico, e houve uma hostilidade direcionada à economia ocidental nos anos 1930 e 1940. Isso, por sua vez, levou à censura em muitos níveis”, concluiu Boldyrev. Certeza que não é o Sherlock Holmes?

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Café só de manhã pode proteger seu coração

Um estudo envolvendo mais de 40 mil adultos acompanhados entre 1999 e 2018, da Universidade Tulane (Nova Orleans, EUA), concluiu que pessoas que só bebem café antes do meio-dia têm uma probabilidade 16% menor de morrer por qualquer causa e 31% menor de morrer por doença cardiovascular quando comparadas a pessoas que não bebem café ou que bebem café o dia inteiro.

Curiosamente, isso não dependia da dose do café: o efeito era o mesmo se as pessoas tomassem pouco café ou mais de três xícaras antes do almoço. “Normalmente não damos conselhos sobre a hora de consumir alguma coisa em guias de dieta”, disse o líder do estudo, Lu Qi, “mas talvez devamos pensar em dar esse conselho no futuro”.

Ainda é cedo para mudar sua rotina para só tomar café cedo: o próprio Qi assume que mais estudos são necessários para validar suas descobertas em outras populações. É uma correlação, afinal. Vai saber o que mais fazem as pessoas que só tomam café de manhã? Talvez façam mais exercícios que as outras? Uma coisa é consenso: as loucas de verdade são as que não tomam café nenhum.

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Evolução do brasileiro? Pesquisadores desvendam origens evolutivas da falta de planejamento a longo prazo

Pesquisadores da Universidade de Nevada em Las Vegas apostaram na evolução para explicar pessoas que são ruins em planejamento a longo prazo. As pessoas que preferem comer uma bolacha agora mesmo em vez de ganhar três daqui 15 minutos são assim porque, segundo o antropólogo Brian Villmoare e colegas, “para humanos (em nosso passado evolutivo) e a maioria dos animais, o futuro é essencialmente incognoscível, então eles não podem saber se uma decisão que prioriza o futuro será recompensada”.

Mais de 98% do tempo em que estivemos neste planeta nós passamos em condições em que não tínhamos sequer métodos sofisticados de preservar comida, ou agricultura. Se não comer tudo agora e guardar para depois, o depois será uma pilha de alimentos podres — daí nossa tendência a querer aproveitar tudo agora.

“Só desde a chegada das sociedades com agricultura complexa, apenas 5 mil a 7 mil anos atrás, que os humanos puderam fazer ‘investimentos’ confiáveis no futuro na maior parte das áreas de suas vidas”, disse Villmoare. A cultura mudou rápido demais, a civilização veio numa marcha impossível de ser acompanhada pela base genética dos nossos instintos. Somos macacos investindo em Bitcoin, e dá para perceber.

Fonte.

(Crédito das imagens: “Flaming June”, de Frederic Leighton, 1895; Petr Kratochvil/Wikimedia Commons; reprodução/Hirotaka Sato Group)

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Eli Vieira

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