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A Inteligência do Brasil está sendo deportada

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Por Everardo Gueiros*

O Brasil não perde seus cérebros — ele os expulsa. Com descaso, incompetência e uma impressionante vocação para sabotar o próprio futuro. Transformamos a fuga de talentos em política não declarada. Exportamos inteligência como quem se livra de um incômodo. E sem o menor constrangimento.

O êxodo de profissionais qualificados para os Estados Unidos, Europa e outros países não é um acidente. É consequência direta de um país que trata conhecimento como ameaça e mérito como afronta. Aqui, quem pensa incomoda. Quem pesquisa atrapalha. Quem ensina sobrevive — quando consegue.

O pesquisador virou supérfluo, o cientista é “um peso morto” sustentado por bolsas que mal pagam o aluguel; e o professor, um alvo fácil de desprezo institucional. A máquina pública prefere a ignorância: ela não cobra, não questiona e não muda o status quo.

Por isso, enquanto outros países caçam mentes brilhantes, o Brasil se contenta em formar mão de obra desvalorizada.

Não, não é patriotismo. É sobrevivência. Os talentos que partem não estão buscando luxo — estão fugindo do abandono. O que os empurra não é ambição, é desespero. E do outro lado do oceano, encontram o que aqui jamais tiveram: respeito, estrutura e perspectiva.

Ainda há resistência, é verdade. Há quem insista em ficar e lutar. Mas até quando? Quantos mais teremos que ver partirem antes de admitir que o problema não são eles — somos nós? Quantos cérebros vamos deportar antes de entender que estamos condenando o país à mediocridade?

Isso é culpa de uma política míope, preguiçosa e hostil à inteligência. De uma elite política que acha que investir em educação e ciência é desperdício — e depois vai bater continência para quem colhe os frutos do que a gente plantou e abandonou.

Um país que transforma seus gênios em exilados por omissão será, inevitavelmente, um pária no mundo do conhecimento. E continuará sendo tratado com a irrelevância que fez por merecer.

* Everardo Gueiros é advogado e empresário. Foi secretário de Projetos Especiais do Governo do Distrito Federal, desembargador do TRE-DF, conselheiro Federal da OAB, presidente da Caixa de Assistência da OAB/DF e diretor da Escola Superior de Advocacia da OAB/PE.

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