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A Incoerência de Simone Tebet no Planejamento: Três Anos de Despreparo e Maquiagem Orçamentária

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Nos últimos três anos, acompanhei de perto a gestão de Simone Tebet no Ministério do Planejamento e, sinceramente, o que vi foi uma sequência de promessas não cumpridas, contradições gritantes e um despreparo evidente para lidar com algo tão delicado quanto o orçamento público do Brasil. Quando ela assumiu o cargo, em 2023, a expectativa era que trouxesse equilíbrio às contas públicas e uma visão responsável para o planejamento econômico. Mas, na prática, o que vimos foi bem diferente: uma ministra que fala uma coisa e faz outra, um arcabouço fiscal que nunca foi cumprido sem truques contábeis e um cenário fiscal que só piora. Vou explicar por que, na minha visão, a gestão dela foi marcada por incoerência e por uma falta de preparo que comprometeu o futuro do país.

Promessas de Austeridade que Viraram Gastos sem Controle

Logo que assumiu, Tebet parecia determinada a passar uma imagem de seriedade. Em uma entrevista ao programa Bom Dia, Ministra, da EBC, ela disse, com um tom otimista: “O Brasil está dando certo. Fala alguém aqui que não é de que o PT, que é frente ampla, que é de centro, que o Brasil está dando certo.” Na época, achei a fala estranha, porque a realidade que eu via – e que os números mostravam – era bem diferente. A inflação estava alta, o déficit público não parava de crescer, e o país enfrentava dificuldades para retomar o crescimento econômico. De fato, o IPCA de 2023 fechou em 4,62%, bem acima da meta de 3,25% do Conselho Monetário Nacional. Como ela podia dizer que o Brasil estava “dando certo” com esses números na mesa?

Além disso, Tebet defendeu o arcabouço fiscal como se fosse a solução para todos os problemas. Em 2023, ao apresentar o novo marco fiscal, ela alertou: “Não podemos esquecer que o mercado está caro e que a inflação está alta.” Concordei com ela nesse ponto – era uma análise óbvia. Mas o que me deixou perplexo foi ver que, na prática, o governo, com o aval dela, foi na contramão desse discurso. Eles aumentaram os gastos públicos sem critério, especialmente em custeio e programas sociais, sem mostrar de onde viria o dinheiro para bancar isso. O resultado? Um déficit primário de R$ 230,5 bilhões em 2023, ou 2,1% do PIB, segundo o Tesouro Nacional. Isso é o oposto de responsabilidade fiscal.

Reforma Tributária e Falta de Visão

Outro momento que me marcou foi a forma como Tebet lidou com a reforma tributária. No começo, em 2023, ela parecia empolgada, dizendo que a reforma seria um divisor de águas para a economia brasileira. Mas, em 2024, durante uma audiência pública, ela mudou o tom e disse: “Não esperamos números tão positivos em pouco tempo.” Fiquei me perguntando: como assim? Se ela sabia que os resultados não viriam tão rápido, por que criou tanta expectativa antes? A reforma, que já foi aprovada com atrasos e várias mudanças, não trouxe o impacto prometido, e o governo precisou aumentar impostos em alguns setores para tapar o buraco na arrecadação. Isso, para mim, é falta de planejamento. Ela deveria ter sido mais realista desde o início, em vez de prometer o que não podia cumprir.

E o orçamento de 2025? Quando li a declaração dela dizendo que “a partir de 2027, precisaremos cortar algo em torno de R$ 50 bilhões anuais de gastos”, quase não acreditei. Estamos em 2025, com a economia patinando, a inflação ainda pressionando e a dívida pública crescendo, e ela fala em cortes que só vão acontecer daqui a dois anos? Isso não faz sentido. Se o problema é agora, por que não agir agora? Essa postura de empurrar as decisões difíceis para o futuro mostra o quanto ela não está preparada para lidar com a gravidade da situação.

Arcabouço Fiscal: Um Castelo de Areia Cheio de Truques

O arcabouço fiscal, que deveria ser a grande conquista da gestão dela, virou uma piada. Desde que foi implementado, em 2023, o governo nunca conseguiu cumprir as metas sem recorrer a manobras contábeis – ou, como eu prefiro chamar, maquiagens. Um exemplo que me revoltou foi a exclusão de despesas como precatórios do cálculo do limite de gastos. Em 2024, o governo adiou o pagamento de R$ 37 bilhões em precatórios só para fazer as contas fecharem. Isso não é cumprir o arcabouço; é enganar quem acompanha as finanças públicas.

Os números não mentem. Entre 2023 e 2025, o arcabouço foi descumprido ano após ano. Em 2023, o limite de crescimento real das despesas, que deveria ficar entre 0,6% e 2,5% acima da inflação, foi estourado, com um aumento de 3,5%. Em 2024, a mesma coisa: o crescimento foi de 4,1%, de novo acima do teto. E, para 2025, as projeções apontam um déficit primário de R$ 142,5 bilhões, ou 1,25% do PIB. Todo ano, o governo usa algum truque para fingir que está tudo sob controle, mas quem entende de economia sabe que isso é insustentável.

Pós-2026 e a Falta de Coragem para Agir

Recentemente, Tebet disse que “após a eleição, vamos ter que sentar à mesa e enfrentar essas questões”. Quando li isso, pensei: mais uma vez, ela está jogando o problema para frente. Por que esperar a eleição? Por que não enfrentar as questões agora, enquanto ela ainda está no cargo? Essa atitude de adiar decisões difíceis é típica de quem não tem um plano claro. E, enquanto isso, a dívida pública só cresce – o FMI estima que ela vai chegar a 88% do PIB em 2025. Como vamos recuperar a confiança dos investidores desse jeito?

Um Legado de Contradições e Falta de Preparo

Depois de acompanhar esses três anos, minha conclusão é que Simone Tebet não estava preparada para o desafio de comandar o Ministério do Planejamento. Ela prometeu responsabilidade fiscal, mas permitiu gastos sem controle. Defendeu o arcabouço fiscal, mas nunca o cumpriu sem maquiagens. Falou em equilíbrio, mas deixou as decisões difíceis para o próximo governo. Os números mostram o tamanho do problema: o arcabouço foi descumprido todos os anos, e o déficit público não para de crescer. A gestão dela, na minha opinião, foi um festival de incoerências que comprometeu a credibilidade do Brasil e a sustentabilidade das nossas contas públicas. Está na hora de o governo parar com promessas vazias e começar a planejar de verdade, com seriedade e responsabilidade.

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