Por Newton Cannito*
A ópera “Il Guarany”, no Theatro Municipal de SP, revela bem como a ideologia woke destrói, ao mesmo tempo, a arte e a nação brasileira. O mais evidente é a precariedade estética, já revelada em artigos de Walker, Medaglia e Teófilo. Mas essa precariedade não é só incompetência: é o resultado natural da ideologia woke e sua crença no lugar de fala.
Na primeira montagem de O Guarani, o mulato Carlos Gomes conseguiu convidar um famoso tenor italiano para interpretar o indígena Peri. Esse tenor, além de branco, era gordo, bem distante do biotipo físico do personagem. Nessa época áurea da ópera, a qualidade da voz era mais importante do que o biotipo físico, e o público era acostumado a usar a imaginação, não sendo apegado a essa “realidade documental”. Mas a arte woke é apegada ao lugar de fala.
O lugar de fala define que só índios podem falar de índios, só pretos de pretos, só gordos de gordos. Aí, a nova encenação woke inteira é baseada na ideia de que a obra tem que levar os indígenas ao palco, mesmo eles não sendo profissionais de ópera. O resultado é uma péssima propaganda para a cultura indígena real.
Acho legal dar espaço para índios receberem o cachê e serem incluídos, mas seria mais sincero e eficaz para divulgar a cultura indígena colocá-los em obras que dialoguem realmente com a cultura deles. Essa mania de tudo ser “documental”, essa estética chamada de pós-dramática, é apenas uma forma de destruir a arte e a representação. O lugar de fala existe e é algo que a arte supera. O papel da arte é superar o lugar de fala, pois na arte transcendemos nosso corpo material e interpretamos outras pessoas. Mas os wokes, ao contrário, são apegados ao seu lugar de fala, tratam seu corpo como tudo o que têm. E, dessa forma, destroem a representação e a arte.
Em defesa da peça, a tropa woke, liderada pelo próprio Krenak e pela ideologia-chefe Lilia Schwarcz, publicaram textos argumentando que o objetivo dessa nova montagem é superar o indianismo de José de Alencar, livro que serviu de base para a ópera. No entanto, o que irei mostrar é que a adaptação de Ailton Krenak, tal como seus livros, cria um novo indianismo woke.
O indianismo, como sabemos, foi um movimento que construiu uma visão idealizada do indígena como herói fundador da nação. Isso inclui amar uma branca (miscigenação) e se converter ao cristianismo.
O wokismo criou um novo indianismo, uma nova idealização, oposta à primeira. Nesse novo indianismo, o indígena deixa de ser herói e vira vítima. Mas uma vítima de esquerda, um jovem woke, um selvagem anticapitalista, anti-propriedade privada e, principalmente, um originário anticristão.
Isso tudo é só uma nova idealização, um novo indianismo: o indianismo woke. Esse novo índio pensa como um woke típico e segue a pauta do ecologismo woke. Ele odeia a nação brasileira, pois é contra a nação que, supostamente, oprime as culturas originais.
Eles adoram originais, aliás, pois buscam a pureza étnica e cultural, o indígena antes do “nefasto encontro com o branco”. O ideal para o índio-woke é o retorno à era antes da chegada dos portugueses, daquela época onde os índios viviam felizes, em um mundo “socialista”, sem propriedade privada, em contato com a mãe natureza, sem destruir a ecologia.
Em uma das viagens que fiz ao Acre, lembro de uma eco-woke andando conosco numa canoa. Em um momento, ela disse:
“Olha que lindo, um esquilinho.”
“Pow, um índio atirou fulminante e matou o esquilinho.”
“Ai, meu Deus. Mataram o esquilinho,” disse a jovem woke.
Logo depois, o esquilinho estava assando na fogueira e a eco-woke me confessou: “Eu achei que os indígenas eram veganos!”
E o novo indianismo, liderado por índios New Age, como Krenak, o pensamento de Krenak lembra a sua real formação intelectual ocidental: o ecologismo ativista da década de 70. Suas concepções de Dança Cósmica lembram as teorias da nova era (New Age) de Capra e outros, sucesso entre as elites da Vila Madalena. Temos que admitir que foi um avanço: antes as elites brasileiras queriam um guru indiano.
Agora querem um guru originário. Krenak entrou nesse mercado de gurus anticristãos naturebas. Em seus livros, Krenak segue a pauta globalista anti-woke que considera o homem branco o grande responsável pela tragédia atual, que vai da infelicidade à destruição da mata.
Para ele, o ser humano é um vírus. Essa separação entre humano e natureza não tem nada de pensamento indígena: é apenas o pólo oposto da modernidade, o woke que quer destruir a sociedade ocidental, mas não tem nada a propor, além de uma volta ao suposto passado mítico originário.
Essa ideologia da eco-woke, que Krenak lidera, exige lugar de fala. Então, nada melhor do que um indígena de sangue para repetir a doutrina woke. Os wokes, como sabemos, adoram diversidade de figurinos, mas odeiam a diversidade de ideias. Os figurinos mudam entre os personagens do mundo woke: os índios com direito a usar cocar, os pretos afro futuristas, a turma de cabelo azul, os não binários, etc. Cada um tem um visual, mas todos pensam igual. E são todos “originários” purinhos, sem intervenção do ocidente branco patriarcal.
O objetivo final dessa ideologia estrangeira é destruir a nação brasileira, dissolvendo nossa pátria em várias pequenas tribos (brancos x negros, índios x brancos, gays x heteros, centenas de “nações indígenas”, etc.). Por isso, os wokes adoram falar de povos originários, pois querem sempre voltar a uma suposta pureza indígena e conquistar vastos territórios para outras “nações”, que, livres da opressão da nação brasileira, ficam reféns da dominação das ONGs woke.
Essa teoria parece boba, mas justifica a cessão de vastos territórios da nação brasileira a ONGs woke que supostamente defendem esses povos e são os novos colonizadores, treinando índios como Krenak para repetir a ideologia estrangeira. Isso tudo é colocado na ópera de forma dispersa, com enxertos descolados da dramaturgia, corais indígenas, projeções de animação, cartazes, manifestos políticos, tudo solto como o ativismo lacrador woke costuma fazer. Além de perverso ideologicamente, é precário esteticamente.
Mas fica claro o real objetivo da ideologia woke: é o famoso dividir para dominar. O indianismo de Alencar visava unir a nação brasileira. O novo indianismo woke de Krenak e Guadalajara visa dividir. Essa montagem woke da ópera Guarani, para além do baixo nível estético, é isso: um esforço para destruir a nação brasileira.
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* Newton Cannito é criador da Comunidade Utopia Brasil e fundador da Artistas Livres