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O Globo e o Conto de Fadas do Estado Salvador

Por Leonardo Corrêa*

O jornal O Globo publicou hoje, 16 de fevereiro de 2025, uma matéria sobre a “nova classe média” brasileira, com base em uma pesquisa da Quest. Segundo o texto, esse grupo social estaria consolidado, mas com valores distintos das gerações anteriores e com um futuro de pouca mobilidade. A reportagem sugere que essa classe média valoriza o Estado como provedor de serviços, que o diploma perdeu seu valor e que o empreendedorismo não é mais prioridade. Mas será que essa é uma descrição fiel da realidade ou apenas mais uma narrativa conveniente?

A pesquisa utilizada como base para a matéria levanta suspeitas de direcionamento deliberado em sua formulação. Quem já leu Daniel Kahneman consegue identificar heurísticas e vieses cognitivos operando nas perguntas e respostas. A falácia da ancoragem aparece ao sugerir que o Estado deve garantir serviços essenciais, induzindo respostas favoráveis ao intervencionismo. A aversão à perda é explorada ao insinuar que qualquer redução do papel estatal significaria prejuízo para a população. Além disso, a pesquisa ignora o viés do status quo, tratando o atual modelo de Estado grande como uma referência natural, sem considerar alternativas viáveis. Dessa forma, a suposta nova mentalidade da classe média pode ser, na verdade, apenas o reflexo de uma metodologia estruturada para confirmar um resultado já desejado.

Mas há algo ainda mais intrigante. A pesquisa mostra que os maiores sonhos dessa classe média incluem ter saúde e educação de qualidade, mas os entrevistados também defendem que o governo continue oferecendo esses serviços. Se o Estado já os fornece, por que ainda são vistos como sonhos inalcançáveis? Eis um paradoxo que a matéria convenientemente ignora. A realidade, claro, é que os serviços públicos falham miseravelmente e sistematicamente, e a população sabe disso — mas esse detalhe não encaixa bem na narrativa.

Outro ponto curioso é a forma como o empreendedorismo é tratado na matéria. Embora mencione que 23% da nova classe média já têm o próprio negócio, a reportagem não o destaca como um valor essencial para ascensão social, mas sim como uma alternativa quase obrigatória diante do enfraquecimento do diploma universitário.

No entanto, pesquisas como a do Diário do Comércio mostram que empreender segue como um dos principais sonhos dos brasileiros, o que reforça que a iniciativa privada continua sendo o verdadeiro motor da mobilidade social — algo que o texto de O Globo evita enfatizar. Além disso, não há questionamento sobre os reais entraves ao empreendedorismo no Brasil, como a burocracia sufocante, a carga tributária esmagadora e a insegurança jurídica, que desestimulam quem quer construir algo próprio. Talvez porque a resposta real não seja conveniente para quem acredita que o Estado é a solução para tudo.

A reportagem também abraça a ideia de que o diploma universitário perdeu valor. Mas por que isso aconteceu? O Globo sugere que isso faz parte de uma mudança cultural, mas será que o problema não está na qualidade do ensino superior, cada vez mais inchado por universidades públicas aparelhadas e faculdades privadas de baixa qualidade? Sem mencionar a substituição do mérito acadêmico por cotas e aprovações automáticas. Novamente, o texto evita questionar o papel do próprio Estado nessa equação.

Diante de tudo isso, a questão que fica é: por que se dá atenção a essas pesquisas? Será que elas refletem a realidade ou são apenas mais um instrumento de manipulação, projetando sobre a sociedade uma imagem conveniente para quem deseja um Estado cada vez maior? Pesquisas podem ser formuladas de forma a induzir respostas, e matérias podem ser escritas para confirmar preconceitos ideológicos. No fim, talvez não seja a nova classe média que mudou tanto — talvez sejam apenas as narrativas que evoluíram para tentar justificar suas premissas evidentemente falaciosas, destruídas desde a queda do Muro de Berlim.

Afinal, a melhor maneira de manter um país refém do Estado é alimentar incessantemente a ilusão de que ele é indispensável. Cultiva-se o mito do Estado Babá, um super-herói infalível pronto para salvar a todos — ainda que, na prática, seja ineficiente, burocrático e incapaz de cumprir o que promete. Uma fantasia conveniente para quem deseja concentrar poder, mas uma balela monumental para quem observa a realidade.

Mas esse tipo de pesquisa está com os dias contados. Os ventos de liberdade vindos da Argentina já estão desmascarando as falácias do “Estado salvador”. Javier Milei está promovendo uma verdadeira revolução econômica, provando que cortes de gastos, privatizações e livre mercado geram crescimento e prosperidade. E não está sozinho: Donald Trump voltou à Casa Branca e já sinalizou uma aproximação com Milei, reforçando uma agenda liberal que pode ganhar ainda mais força na América Latina. Quando os brasileiros começarem a ver os hermanos melhorando de vida, não adiantará publicar pesquisas enviesadas. A realidade sempre vence a ficção.

* Leonardo Corrêa — Advogado, formado pela PUC-RIO, com LL.M pela University of Pennsylvania, sócio de 3C LAW | Corrêa & Conforti – Advogados

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Leonardo Correa

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