Claudio Castro resolveu trocar seu secretário de Fazenda, o economista Leonardo Lobo, responsável pela renegociação da dívida do Rio de Janeiro com a União, pelo cientista político Juliano Pasqual, ex-assessor parlamentar. A notícia do último dia 1 me deixou curioso. Colocar na Fazenda um cientista político no lugar de um economista parece não fazer sentido. Mas na política poucas coisas fazem sentido.
Fui pesquisar matérias sobre a troca nos jornais cariocas.
Parece que o novo secretário atuou nos governos de Ibaneis Rocha (DF) e Geraldo Alckmin (SP), recebeu as bênçãos de Davi Alcolumbre e Arthur Lira (não Hugo Motta), e teria “trânsito livre” no Congresso Nacional. O objetivo, segundo essas versões publicadas, seria ‘melhorar a articulação do governo fluminense com os parlamentares’, considerando a regulamentação da reforma tributária e os vetos ao Propag.
Normalmente, esse tipo de bastidor político já é feito pelo escritório de representação dos estados em Brasília, ocupado por algum ex-parlamentar ou ex-ministro com entrada na Casa, para fazer as vezes de lobista. Não costuma ser papel de secretário de Estado.
Insatisfeito com as versões, resolvi seguir na minha apuração e liguei para algumas fontes, no Rio e em Brasília. Foi então que ouvi o nome do advogado Tiago Cedraz, o notório filho de Aroldo, ministro do TCU especializado no setor de energia. Essas fontes me relataram que o rapaz, que ficou um tempo no exterior após ser colhido em investigações da Lava Jato, voltou com tudo após o arquivamento das denúncias. E hoje atuaria em nome de Ricardo Magro, dono do grupo Refit (Ex-Manguinhos) e notório sonegador.
Magro, que foi alvo da Polícia Civil de São Paulo em dezembro, deve ao estado do Rio mais de R$ 8 bilhões em tributos, essencialmente ICMS. A ele é atribuída uma articulação, via Associação de Importadores e Intervenientes em Comércio Exteriores do Rio (AcomexRio), para instituir um regime tributário diferenciado para a importação de nafta. Especialistas alertam que esse tipo de regime abre brecha para fraudes que poderiam render à Refit uma economia anual de R$ 3,6 bilhões em impostos.
Considerando que Rio e São Paulo devem juntos quase meio trilhão à União, abrir mão dessa renda seria uma irresponsabilidade e poderia até precipitar o fim da carreira política de Castro, que pretende se lançar ao Senado em 2026.
Conforme essas fontes, o antigo secretário (Lobo) caiu por não concordar com a suposta manobra de Magro. Mas duvido que Pasqual, uma vez ciente do problema, concorde em colocar seu CPF nisso. Tampouco acho que Tiago tenha algum tipo de influência sobre o novo secretário apenas pelo fato de Pasqual ter trabalhado no gabinete de Aroldo Cedraz quando deputado federal. O filho do ministro do TCU tampouco aparece nos autos que envolvem a dívida bilionária de Magro e não arriscaria voltar ao noticiário policial.