O preço do café atingiu seu maior patamar desde 1977, reflexo de problemas climáticos e estoques reduzidos. Apesar da crise, o governo Lula não apresentou medidas eficazes para mitigar os impactos sobre produtores e consumidores. A expectativa é que os altos preços persistam até o segundo semestre de 2025, pressionando ainda mais o orçamento das famílias brasileiras.
Na quarta-feira (29), o café arábica foi negociado a US$ 3,6655 por libra-peso, mais que o dobro do valor registrado no mesmo período do ano anterior. No Brasil, o preço ao consumidor final subiu quase 40% em 2024, passando de R$ 29,62 em janeiro para R$ 42,65 em dezembro.
O deputado distrital Chico Vigilante (PT-DF) espalhou desinformação ao acusar a indústria cafeeira de aumentar o preço do produto de forma especulativa. Em um vídeo divulgado nas redes sociais, ele afirmou que as principais empresas do setor, como a Três Corações, teriam reajustado os valores como uma tentativa de “golpe” contra o governo. A realidade, no entanto, é bem diferente.
Assista ao vídeo do deputado Chico Vigilante:
Ver essa foto no InstagramUma publicação compartilhada por Chico Vigilante (@chicovigilanteoficial)
A crise no setor cafeeiro vem sendo impulsionada por condições climáticas adversas e aumento da demanda global. O Brasil, maior produtor mundial, sofreu com geadas severas em 2021, que impactaram a safra dos anos seguintes. Em 2023, o fenômeno El Niño trouxe chuvas irregulares e temperaturas extremas, afetando ainda mais a produção, foi o que explicou Pavel Cardoso, presidente da Associação Brasileira do Café (ABIC) em entrevista ao programa diário Alive do jornalista Claudio Dantas. Os estoques mundiais também estão em queda, enquanto a demanda cresce, especialmente na China.
A exportação brasileira de café atingiu 50,443 milhões de sacas em 2024, um aumento de 28,5% em relação ao ano anterior. No entanto, a produção doméstica caiu, o que pressiona ainda mais os preços.
Mesmo diante desse cenário, a indústria absorveu boa parte do custo, repassando ao consumidor final apenas 39% da alta. “Se não fosse esse esforço das indústrias, o impacto no varejo seria ainda maior”, ressaltou.
As falas de Vigilante, portanto, ignoram os fatos e tentam politizar uma questão puramente econômica e climática. A tentativa de responsabilizar a indústria e acusar os produtores de “sabotagem” é infundada e reflete a postura intervencionista do governo Lula, que busca culpados para esconder sua própria ineficiência na gestão econômica do país. Enquanto isso, os consumidores brasileiros continuam a sofrer com a alta dos preços, reflexo de um cenário que vai muito além da narrativa petista.
Especialistas criticam gestão do setor
Cardoso destacou que a alta do café “não acontece por uma questão específica e única”. Ele explicou que eventos climáticos sucessivos comprometeram a recuperação da lavoura. “O aumento foi de mais de 180% na matéria-prima, enquanto a indústria repassou cerca de 40% ao consumidor. As empresas tiveram que absorver boa parte dos custos”, afirmou. Ele também criticou o desconhecimento de políticos sobre o setor e alertou para novas altas nos primeiros meses de 2025. “Mas a boa notícia é que, a partir da safra de 2026, poderemos ver algum arrefecimento nas cotações”, ponderou.
Roberto Queiroga, diretor-executivo da Associação de Cerealistas (Acebra), apontou que as cotações internacionais e a desvalorização do real são fatores que influenciam diretamente o preço. “A indústria nacional é a maior cliente do produtor brasileiro, e o aumento da demanda global aliado às crises climáticas pressionam os custos”, afirmou.
Apesar da gravidade da situação, o governo Lula tem adotado uma postura passiva, sem apresentar soluções efetivas para conter os impactos da alta dos preços. A proposta de zerar a tarifa de importação, defendida pelo presidente e por ministros como Carlos Fávaro e Paulo Teixeira, gerou críticas do setor. “Isso só se justifica se houver uma crise de desabastecimento, o que não é o caso”, destacou Queiroga.
Para 2025, a projeção é de uma safra ainda menor, com produção estimada em 51,8 milhões de sacas. Mesmo que a produção volte a crescer em 2026, os preços dificilmente retornarão aos níveis anteriores. Em 2023, uma saca de café era comercializada por cerca de R$ 800, valor que já comprometia a rentabilidade dos produtores. O setor cafeeiro segue pressionado, e sem uma política agrícola eficiente, os consumidores brasileiros continuarão pagando caro pelo produto. A falta de estratégia do governo Lula para minimizar os impactos da crise climática e do mercado internacional expõe a fragilidade da gestão econômica, colocando em risco um dos setores mais importantes da economia nacional.
O deputado federal Rodolfo Nogueira (PL) criticou duramente durante o programa a postura do governo Lula em relação ao agronegócio: “Desde que Lula assumiu, ele colocou o agro como inimigo número um e tem atacado o setor com regulações, burocracias e tributação abusiva. O agro sustenta o PIB, gera empregos e garante comida na mesa do brasileiro, mas o governo prefere criminalizar o produtor.”
Para Nogueira, o problema não se limita ao café: “Hoje, todos os segmentos do agro estão em crise. Enquanto o governo atrapalha, os produtores seguem carregando a economia brasileira nas costas.”
A analista Carol Sponza destacou outro obstáculo imposto pelo governo: a burocracia excessiva para insumos agrícolas. “Durante anos, o Brasil ficou para trás em relação à aprovação de defensivos modernos e menos nocivos. O processo de registro demorava até 14 anos! Agora que houve um avanço, a esquerda silencia e a mídia ainda trata esses produtos como ‘agrotóxicos’, reforçando uma desinformação histórica.”