O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) passa por uma crise institucional por causa de seu atual diretor, o economista Marcio Pochmann, oficializado no cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em agosto de 2023.
Uma carta aberta publicada nesta segunda-feira (20) e assinada por 135 funcionários da entidade, 125 dos quais ocupam cargos de gerência e coordenação, acusa Pochmann de fazer uma gestão “pautada por posturas autoritárias e desrespeito ao corpo técnico da casa” com viés “político e midiático”.
Para os signatários, a crise se agravou em 15 de janeiro de 2025, quando o presidente do IBGE divulgou “um comunicado à sociedade para desferir ataque inaceitável à integridade ética dos servidores e de seu sindicato”. O comunicado criticou diretores que pediram exoneração por causa da pressão de Pochmann pela instalação de uma agência interna ao instituto, a “Fundação IBGE+”.
A gestão de Pochmann também ameaçou processar seus críticos internos e imitar o Supremo Tribunal Federal e a Advocacia Geral da União, que “vêm enfrentando judicialmente a desinformação e as mentiras”.
Segundo os gerentes e coordenadores que assinaram a carta, Pochmann “ameaça seriamente a missão institucional e os princípios orientadores do IBGE” com a ideia da fundação, pois a ideia é que ela receba verbas, sob o pretexto da inovação.
Foi uma crise anunciada
A reportagem conversou com uma funcionária do IBGE. “Sempre foi um órgão muito técnico”, ela diz, até o governo Lula 3 romper com a tradição. A maioria dos outros presidentes, como Bolsonaro e Temer, nomeavam uma ou duas pessoas de sua confiança em poucos cargos menores, “geralmente assessoria de comunicação”.
O rompimento foi não apenas pela nomeação de Pochmann, com perfil ideológico conhecido, mas pela própria atitude do gestor, “que trouxe mais pessoas” com seu perfil, “o que já levantou um alerta vermelho”.
“O presidente estava atropelando todos os setores técnicos, trocando pessoas-chave, criando comitês, tirando atribuições de alguns setores e passando para outros”, tudo isso em detrimento da qualidade técnica.
Para tentar apaziguar os servidores descontentes, Pochmann criou no começo da gestão uma iniciativa de “diálogos”. O resultado da iniciativa, contudo, foi que os “diálogos” foram usados para a alegação de que as mudanças foram de iniciativa da maioria dos servidores. “Isso é falso”, disse a funcionária.
Uma medida considerada autoritária foi uma portaria que obrigou todos os servidores a voltarem para o regime híbrido de trabalho, eliminando a possibilidade de trabalho remoto. Não foi o melhor momento para isso, pois o IBGE precisa da economia de recursos gerada com o regime remoto. Além disso, a medida afastou bons funcionários, que procuraram outros empregos com as condições de sua preferência.
Os críticos de Pochmann dentro do IBGE pensam que um dos próximos planos pode ser a alteração do estatuto da entidade, o que pode ter a função de aparelhamento permanente. A iniciativa pode já estar em curso, assim como o estabelecimento da Fundação IBGE+.
Os gerentes que saíram em protesto podem estar ajudando no projeto de aparelhamento, liberando vagas a serem preenchidas com os novos critérios da gestão. O aparelhamento começou no setor administrativo, mas já está avançando sobre a parte técnica do instituto.
Apesar da carta, ainda há receio de retaliação da presidência do IBGE. “As pessoas estão com medo de retaliação, de se manifestarem e questionarem. Está um ambiente horrível de trabalho”, relata a funcionária.
Especialista em aparelhar
A carreira de aparelhamento ideológico de instituição técnica de Pochmann começou no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Ele assumiu a presidência do órgão em 2007, durante o governo Lula 2, onde ficou até 2012.
No IPEA, Pochmann afastou economistas críticos do governo considerados “neoliberais”, como Fabio Giambiagi, Otávio Tourinho, Gervásio Rezende e Regis Bonelli.
O economista tem ligação umbilical com o Partido dos Trabalhadores. Foi secretário de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade na gestão de Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo, por exemplo. Pochmann também é ligado à Universidade de Campinas (Unicamp), onde se encastelaram economistas que insistem que a solução para o Brasil é o “desenvolvimentismo”, projeto que centraliza a intervenção estatal na economia e é associado a Getúlio Vargas e ao regime militar.
(Crédito da imagem: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Uma resposta
Estatística é o campo da matemática mais suscetível a linguagem. Dependendo do que se quer, o ‘nós contra eles’ pode ser usado. Um bom exemplo é considerar com empregado quem recebe auxilio do governo.