Foi anunciada ontem com alarde a compra da Mineradora Taboca, maior produtora de estanho refinado (não urânio, como publicaram alguns sites e perfis) do país. Ex-subsidiária da Paranapanema, a companhia estava desde 2008 sob controle da peruana Minsur, uma das principais produtoras de estanho do mundo e associada ao fundo Profuturo AFP, controlado pelo banco canadense Scotiabank. Agora, a Taboca e sua mina de Pitinga, que também contém nióbio e tântalo associados, está nas mãos da CNMC (China Nonferrous Mining Metal Company), estatal chinesa que está presente no Irã, na Zâmbia e na RDC; e cuja atuação é marcada por denúncias de violações ambientais, trabalhistas e até suborno.
A China é a maior consumidora mundial de estanho, com cerca de 50% do mercado. O mineral é usado para soldas, embalagens metálicas, componentes eletrônicos, como semicondutores, sensores e telas sensíveis ao toque; além de componente essencial do bronze e para revestimentos de outros metais, como aço, protegendo-o da corrosão. É também aplicado em tintas, verniz, cremes dentais, como aditivo para estabilização térmica na indústria plástica e catalisador para espumas de poliuretano e silicones. A CNMC, portanto, atua como importante braço econômico do PCCh para garantir o fornecimento internacional de um minério essencial para a expansão industrial chinesa.
Para isso, vale tudo. Um dos investimentos mais polêmicos da CNMC no exterior envolve projetos em território iraniano, o que fez a companhia ser incluída na lista de empresas sob vigilância dos EUA por negócios em setores sensíveis do regime dos aiatolás, como petróleo/gás, nuclear e militar. A estatal chinesa é proibida de atuar nos EUA, inclusive, figurando em blacklists de vários estados americanos, como Mississipi, Iowa, Flórida e Alasca. Os projetos em território iraniano envolvem fábricas de aço, alumínio e ferroligas.
A CNMC também consta da lista de observação da Human Rights Watch, por “abusos persistentes” em suas atividades na extração de cobre na Zâmbia. Há diversos registros de acidentes trabalhistas, violações das leis locais e até denúncias de agressões de trabalhadores por parte de gerentes chineses da companhia. A ONG americana produziu um relatório com mais de 170 entrevistas onde são relatadas ameaças, suborno de trabalhadores, jornadas de trabalho extenuantes e supressão de direitos, inclusive com proibição de que funcionários se vinculem a sindicatos.
“O desrespeito da CNMC aos padrões trabalhistas e de segurança locais e internacionais deve ser uma bandeira vermelha para potenciais investidores no setor de cobre da Zâmbia”, afirma Arvind Ganesan, diretor de negócios e direitos humanos da HRW. Outra polêmica investida é em Myanmar, onde a CNMC opera com outras duas mineradoras chinesas. Em 2002, dados financeiros vazados no escândalo DDo Secrets revelou um esquema de financiamento oculto da campanha de terror dos militares, com escoamento de recursos das exploração das minas em montante superior a US$ 700 milhões.
Ironicamente, a Mineração Taboca foi eleita uma das empresas do setor mineral em 2024, na categoria inovação e tecnologia de médio porte. Além da mina de Pitinga, em Presidente Figueiredo (AM), a empresa opera uma unidade de metalurgia em Pirapora do Bom Jesus (SP), onde processa o concentrado extraído da mina. Em 2023, a empresa produziu mais de 5,3 mil toneladas de estanho refinado, obtendo receita de US$ 256 milhões, valor próximo aos US$ 340 milhões negociado com a CNMC.
Apesar do prêmio de inovação, a mineradora já foi alvo de várias denúncias da comunidade indígena de Waimiri-Atroari, uma vez a que a mina de Pitinga é vizinha à terra indígena. Em 2021, o MPF pediu a suspensão do lançamento de rejeitos nas barragens de Taboca, que estariam transbordando para os rios devido às chuvas. A principal barragem de Taboca é 4 vezes maior que a de Brumadinho – a mineradora possui 8 barragens em operação e 7 desativadas -, com 53 milhões de metros cúbicos de resíduos, sem manta imperbeabilizante.
Como se vê, há muitas questões a serem encaradas pelo governo e sua base no Congresso em relação ao negócio chinês. Um prato cheio para a oposição expor a hipocrisia do discurso petista de defesa ambiental e de direitos humanos e dos povos indígenas. Sem falar da questão geoeconômica envolvida, com evidente tendência da gestão atual de se alinhar com o eixo de autocracias globais que hoje desafiam a liderança dos EUA e a cultura ocidental.
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